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Só avança quem descansa

A terminar a 5.ª semana de confinamento criaram-se novas rotinas/preocupações, e percebemos que gerir 24 horas por dia, em casa, não é tarefa tão simples como parecia. Num ápice, do não termos tempo para nada – e sentir a vida passar a correr – passamos a ter tempo para tudo e a ver a vida andar, devagar. Esta aparente oposição temporal levou-me a um livro de Vasco Pinto de Magalhães, s.j., cujo título encima este artigo, e ao qual recorro em períodos de crise como o que agora vivemos, por nele surgirem questões pertinentes: “Será que temos tempo de resolver a crise presente? Em algum tempo seremos verdadeiramente felizes? O que valorizamos, afinal?” Uma das minhas primeiras decisões foi reduzir os telejornais a 15 minutos, assistindo ao que quero, em diferido, evitando assim ser contaminado por alguns chefes de estado cuja postura, perante a pandemia, valida uma frase de Albert Einstein — «duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta». Entretanto, voltaram as aulas e o tempo passou a escoar-se rapidamente para a população escolar, não só com ensino/aprendizagem em plataformas digitais, como também a reaprendermos todos, como docentes/alunos, à distância. Apesar de o nosso 1.º ministro e o responsável pela educação se terem desdobrado em entrevistas, em diferentes canais televisivos, a tentar apregoar a (quase) normalidade deste tempo de aulas no (e não ao) domicílio, elogiando — pela primeira vez em meia dúzia de anos de governação — a capacidade dos docentes em se reinventarem, a realidade mostra-se diferente. Embora todos os intervenientes no processo educativo estejam a tentar minimizar estragos, mantenho a ideia de que este 3.º período se deveria cingir apenas a revisões da matéria dada nas aulas presenciais, por forma a que as diferentes condições de cada agregado familiar não potenciem maior décalage em novas aprendizagens. E nem preciso abordar o caso dos alunos abrangidos pelo Dec-lei 54/2018 que se refere, para quem não sabe, à Educação Inclusiva. A melhor “aula”, sobre estas aulas à distância, foi lecionada pelo Prof. Dr. José Soares da FADE-UP às 22h10, na passada 4.ª feira, no Porto Canal. Quem tiver possibilidade, ouça-o e logo a seguir, no mesmo canal, continue a aprender com o professor Jorge Araújo que nos ajuda também a encarar este desafio contra um adversário que, segundo ele, parece querer obrigar-nos a uma superação constante. Deixo-vos um pequeno excerto do livro que titula este artigo: «Vivemos tempos difíceis. Mas todos os tempos nos trazem as suas oportunidades e as suas dificuldades. Fujo ou corro atrás do tempo? Ou aceito o desafio do tempo, da sua sabedoria e modo?» Este COVID 19 dá-nos e tira-nos tempo. A forma como dele dispomos e o gerimos é responsabilidade de todos e de cada um. Por si, e por todos nós, se não faz parte dos heróis que saem diariamente de casa para o trabalho, seja também herói, ficando em casa.
Autor: Carlos Mangas
DM

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17 abril 2020