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Celebremos o 1.º de maio!

Amanhã, em Portugal e na maioria dos países do mundo, festeja-se o 1.º de maio, “Dia do Trabalhador”.

Esta data histórica na emancipação dos trabalhadores oprimidos tem a sua origem nas grandes manifestações operárias, na cidade de Chicago, começadas no primeiro dia do mês de maio de 1886. Depois de provocarem morte e sofrimento a alguns dos seus participantes, acabaram com a aceitação da jornada de trabalho de oito horas e descanso semanal. Porém, a reivindicação por melhores condições de trabalho começou anos antes e já se comemorava o “Dia do Trabalhador”, mesmo sem estar formalizado. A primeira vez foi a 5 de setembro de 1882 e, por este motivo, ao contrário da maioria dos países, nos Estados Unidos da América a data é celebrada no nono mês do ano. 

Volvido bem mais de um século sobre os tumultos que envolveram milhares de americanos reclamando um horário mais justo e melhores condições de trabalho, acredito que faz todo o sentido ir ao encontro do seu significado e lembrar as razões da sua celebração no tempo presente.

O admirável desenvolvimento científico e tecnológico que hoje testemunhamos tem a sua génese na expansão industrial do século XIX. Desde esse tempo, o homem não mais parou de inventar, de aperfeiçoar e de evoluir.

Se o admirável progresso alcançado nos espanta e nos surpreende, também não deixa de ser inquietante e fonte de grandes desassossegos a exaustão do planeta, o aumento exponencial da poluição, as alterações climáticas e os correspondentes fenómenos naturais extremos.

Os avanços até agora conquistados não podem fazer com que nos esqueçamos de celebrar o 1.º de maio. As grandes alterações no mundo do trabalho e as novas formas de escravatura são suficientes para nos manterem vigilantes. Para quantos prezam a liberdade e lutam por uma sociedade mais fraterna e solidária, é importante manter a atenção sobre as modernas formas de escravatura.

As repugnantes formas de servidão continuam a afetar milhões de pessoas. O trabalho forçado, o tráfico de seres humanos, a prostituição contra vontade, a exploração sexual e o trabalho infantil continuam a ser chagas do nosso tempo.

 A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima em mais de 40 milhões as vítimas destas formas de exploração, incluindo crianças. É imperioso não esmorecer e dar um combate sem tréguas a estes crimes hediondos contra a humanidade.

Na sociedade atual onde o desemprego, a precariedade e as novas formas de exploração continuam a ser um problema social grave, urge não permitir o regresso à ditadura do capital sem rosto, que faz letra morta dos valores da liberdade, da solidariedade e da justiça.

De igual modo, há que estar atento às modernas formas de escravidão trazidas pelas novas tecnologias. A internet, as redes sociais e a Inteligência 

Artificial (IA) são outras formas que podem subjugar a pessoa e destituí-la dos mais elementares sinais de humanidade. Quando utilizadas em excesso ou com fins perniciosos podem subjugá-la e fazer dela uma serva sem rosto.

Pugnar por uma sociedade mais desenvolvida, mais justa e mais fraterna, principal condição para o progresso e paz social, não poderá fazer-se ignorando a pobreza, as injustiças e as desigualdades e, muito menos, apoiando-se na instabilidade das relações laborais. Preservar a dignidade do empresário e do trabalhador, onde cada um assuma as suas responsabilidades, é o segredo do sucesso para uma relação cortês e humana. Festejar esta data, é também uma oportunidade para lembrar os princípios que devem nortear esta ligação, sem os quais não poderá haver um verdadeiro progresso.

A cada um de nós, mas principalmente a quem tem a responsabilidade de dirigir o nosso destino coletivo, impõe-se a busca constante de novos modelos capazes de dar resposta aos atuais desafios, de modo a contribuir para o desenvolvimento pleno de todo o ser humano. 

Celebremos o 1.º de maio! Por certo, será um ótimo ensejo para dar a tão relevante data a dimensão que possui, não esquecendo os reptos e os contextos do nosso tempo.

J. M. Gonçalves de Oliveira

J. M. Gonçalves de Oliveira

30 abril 2024