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No Natal é obrigatório um presépio!

Nos tempos que correm, lamentavelmente, o presépio, como pilar crucial nesta época natalícia, dá sinais de ausência ou, na boa-fé, de esquecimento, sendo substituído pela carismática figura do “Pai Natal” ou apenas, por mais surreal que pareça, por uma simples árvore de Natal com todos os adornos coloridos e enfeitada de bolas e bolinhas brilhantes, muito distante da genuína origem que o Advento carateriza com o nascimento do Menino Jesus e primado pela imaginação dos nossos avós e pais. Esta figura típica, central nas tradições e com maior incidência no sul da Europa, como marco histórico de sensibilidade emotiva num período de fraternidade e de apelo à reunião da família, vai dando sinais de fragilidade de preservação. O “pesebre” teve início numa noite de consoada, em 1223, e segundo a sua resenha histórica o local exato foi uma cova junto à igreja de Greccio, em Itália, graças a S. Francisco de Assis, que estimulou essa ideia de produzir nas tradições cristãs o nascimento do Menino Jesus através de um presépio ao vivo, essencialmente com raiz na comunidade italiana e mais tarde, pelo seu sucesso, transbordada para toda a Europa, com especial relevo para Espanha e Portugal. Infelizmente, percorrendo as ruas da cidade ou os centros comerciais com forte impacto publicitário e de origem anglo-saxónica, raramente se encontra em exposição algo alusivo ao presépio, alternado como opção por “excelência” o boneco do “Papai Noel” ou o pinheiro sintético como ferramentas atrativas do consumo adequado para a época. Depois das figuras lindíssimas do Deus Menino, da sua mãe Virgem Maria e do seu pai São José, juntam-se ao presépio as ovelhas, os Reis Magos, o pastor. Em alguns casos mais alegóricos, tipicamente portugueses e de acordo com os gostos regionais e de hábitos bairristas da tradição local, fazem parte como cenário de festa e de alegria de boas-vindas ao recém-nascido a banda de música, o coreto, o castelo, o riacho ou as lavadeiras nos fontanários, a igreja mais popular, o moinho e o moleiro, o rancho folclórico e a mulher do cântaro na cabeça. O comboio não escapa e o pescador na barcaça também marca presença envolto por um bom pedaço de prata a simbolizar um lago rodeado de musgo natural e duradoiro até ao seu término, geralmente desmontado no dia 6 de janeiro, Dia de Reis. Cada um faz o presépio de acordo com a riqueza da sua imaginação, ao seu gosto, tendo como regra fulcral e irreversível ou insubstituível a presença obrigatória do nascimento de Jesus em Belém, ocorrido numa manjedoura para alimentação de animais de um estábulo, representados pelo burro como símbolo da humildade e dos pagãos, o galo, que anuncia numa boa nova a chegada de Jesus. Sabotar este mérito de fazer o presépio com toda a envolvência que se lhe exige, significa ferir os princípios da Sagrada Família com o Menino na manjedoura, prevalecidos pelo Santo que instituiu esse belo conceito configurado na história da natividade. Aliás, já referido neste espaço de opinião, as ornamentações de Natal da cidade de Braga, reconhecendo-lhes a beleza decorativa, pecam exatamente pela ausência das figuras centrais do presépio, desvalorizando uma autêntica e fantástica maravilha de manter viva esta tradição verdadeira e legitimada que representa a quadra natalícia centrada na Sagrada Família. Um Natal sem presépio, seja na casa de cada um ou no espaço público, é como uma noite de consoada com batatas mas sem bacalhau, o prato gastronómico principal, enraizado e degustado com todas as caraterísticas correlacionadas com a celebração festiva em torno do nascimento do Menino Jesus, e não será, nunca, substituído pela vulgaridade tingida à figura do Pai Natal ou da árvore de Natal, cabendo a cada um de nós jamais enfraquecer todo este enredo de uma beleza ímpar e humanista em colocar no sítio certo a verdadeira origem que dá azo, uma vez por ano, às celebrações natalícias, ou seja, um presépio omnipresente. Aproveito para desejar a todos Festas Felizes e um Santo Natal.
Autor: Albino Gonçalves
DM

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18 dezembro 2017