Condolências aos Povos Russo e Ucraniano, familiares e amigos de Mikhail Sergeevitch Gorbatchov (2/3/31-30/8/22), de origens também Ucranianas. Condolências ao mundo que sabe que também a política pode ser nobre. Independentemente de nem todas as acções terem sido sempre as mais correctas. Mas tendo em consideração o facto de ter sido o 8º e último líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, de acordo com o poder que tinha ao seu alcance, bem se comportou: Sting. No jogo da “Guerra e Paz”, o romance histórico de Liev Tolstói, poderíamos dizer que Gorbatchov é um Mestre da Paz, enquanto Vladimir Putin será um mestre da guerra. E se a desagregação da URSS levou a algumas guerras, também é certo que a presente guerra na Ucrânia constitui uma grosseira quebra de paz na Europa desde a II Guerra Mundial. Irá alastrar? É preciso não esquecer que o ódio gera ódio e que a guerra gera guerra. E se a guerra for maior, será a reacção também maior em dimensão. Evocando Hegel no desenvolvimento da História, tese-antítese-síntese. Sendo que a síntese dá origem a nova tese. E por aí afora ad aeternum até ao fim da humanidade? Ou se o fim for sempre o recomeço dum novo princípio. Em ciclos paralelos e intermináveis: Sísifo. Expansão do Universo – ou dos Universos infinitos nas palavras de Stephen Hawking – e concentração e assim sucessivamente em contínuo ao longo de milhões de anos. E que segundo alguns cientistas, uns mais especulativos do que outros, com regras diferentes. Ou seja, nem todos os espaços e tempos nos infinitos universos têm as mesmas regras. E talvez por isso, poderá alguém um dia conseguir voltar ao passado, como diria por outras palavras Albert Einstein? E também por isso mesmo é impossível em rigor separar ciências naturais de ciências não naturais, pois a lógica matemática só tem razão de ser em contraste com o romance histórico e afins, Ludwig Wittgenstein. Ou as ciências humanas não fossem afinal as ciências mais exactas, pois sem humanismo tudo perderia sentido, Edmund Husserl. Quando a justiça não é Justiça, quando a Justiça não funciona, ficamos perante um labirinto, do qual Franz Kafka tentou alertar a Humanidade pelo absurdo. Isto é, toda a acção gera reacção e, a título de (triste) hipótese, o próprio terrorismo surge por vezes como uma tentativa de fazer justiça pelas próprias mãos quando tudo o mais falhou. Ou, de modo fanático, se pensa. Assim, quem comete a injustiça, nunca poderá cair na ilusão de que não haverá reacção. Mais tarde, ou mais cedo, a reacção surgirá. Que não apenas no karma do espaço, do tempo ou da doença, onde são certos os impostos e a morte, para lá da mentira das estatísticas. Pois se Gorbachov interpretou que a ditadura igualitária da URSS se tornou numa mentira, Putin entende que a própria democracia ocidental é uma mentira. Sendo certo que nenhuma das posições ficará sem reacção. Logo, a paz seria mais proveitosa do que a guerra? Cremos! Sem prejuízo da legítima defesa. E/ou com compreensão para quem é forçado a entrar no labirinto da injustiça: sendo natural que se verifique a surpresa e a explosão como reacção para lá da própria legalidade e porventura com danos mentais. Até porque a Pax Romana, sendo imposta e podre, conduz à revolta. Do marxismo-leninismo, Gorbachov, Prémio Nobel da Paz de 1990, evoluiu para a social-democracia. Não por acaso, Gorbachov acabou com a guerra no Afeganistão e impediu que existisse a intervenção militar da Europa de Leste-Pacto de Varsóvia contra os movimentos independentistas democráticos. Aliás, é um dos traumas biográficos do KGB-Stasi Putin que, na Alemanha de Leste, Dresden, pede ajuda a Moscovo em 1989, mas só recebe silêncio. Putin promete aí, e a si mesmo, tornar-se Moscovo! P.S.: em relação ao artigo, “Quem és tu Zé Gato? Orlando Costa&Rogério Ceitil”, completa-se que a música pertence a Jorge Palma – Pedro Brito/Tózé Brito. Por outro lado, é importante lembrar também os criadores João Miguel Paulino, Dinis Machado, Pedro Franco, António Escudeiro e Maria José Pinto.
Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira
