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Mais que «progressista» ou «conservador», importante é ser «consertador»

  1. O que impressiona já não é a diferença, que sempre foi salutar. Nem sequer a clivagem, que desde há muito se foi tornando habitual. O que perturba é a agressividade destilada e a hostilidade vertida. São elas que deixam as sociedades nas fronteiras do ódio e nos umbrais da violência.

  2. As pessoas pleiteiam com insinuações e agridem-se com a calúnia. Acresce que se dá mais crédito a uma mentira, se ela atingir alguém, do que à maior verdade. Sobretudo se esta não prejudicar ninguém.

  3. Por predisposição – e epidérmica má formação –, estamos receptivos aos rumores sem fundamento e aos julgamentos sem defesa. Somos capazes de suspeitar mais do bem que sobressai do que do mal que se atribui.

  4. Numa altura em que os problemas se multiplicam, espanta que não paremos de nos dividir. Ninguém discorda de Raymond Aron quando assinalou que «a democracia é obra comum de partidos rivais». Mas que disponibilidade há para reconhecer o mérito alheio?

  5. Dificilmente os governos acolhem as propostas das oposições. E raramente as oposições valorizam os resultados dos governos. O negativismo é de tal modo contagiante que os cidadãos movem-se mais por aquilo que rejeitam do que por aqueles que apoiam.

  6. Não estamos perante a falência da democracia. Mas podemos ficar imersos numa prolongada crise da democracia. Não foi por acaso que, há já muitos anos, Aloísio Stepinac alertava para o perigo de a democracia degenerar numa «demonocracia».

  7. Um dos principais «demónios» da democracia é a estigmatização dos seus intervenientes. Por este andar, até os «progressistas» correm o risco de se tornarem «conservadores». Enquistados na sua concepção de «progressismo», não se abrem a outros contributos para um efectivo progresso.

  8. A obsolescência destas catalogações salta demasiado à vista. Não terá chegado o momento de as superar?

  9. Os «progressistas», com a natural ânsia de progredir, esquecem que também há muito para conservar. E os «conservadores», com o compreensível desejo de conservar, negligenciam o muito que ainda há para progredir. Ninguém ganha sem os outros. Todos crescemos com os outros.

  10. Entre tantos muros e tamanhas feridas, a prioridade é «consertar». Daí que, mais que «progressista» ou «conservador», o importante seja ser «conservador». Numa humanidade «rasgada» por tanta fractura desoladora, o caminho não passará por uma clara opção «consertadora»?


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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13 novembro 2018