twitter

Apanhados 32

Em termos de trânsito, apesar de bimilenar, barroca, augusta e dos Arcebispos, a nossa cidade de Braga continua a primar por uma imagem pré-histórica; e isto porque, fundamentalmente, os ancestrais e desprimorosos piropos de caseira, maneirinha e provinciana ainda dela não descolaram em definitivo.

Mas, eu explico: em certas avenidas e ruas, mais centrais do que periféricas, mormente a horas de ponta, os veículos automóveis, bicicletas e trotinetas são mais que muitos; e, então, o para-arranca-para-arranca que põe os nervos em franja aos condutores é uma constante e que o sistema semafórico e as rotundas complicam em vez de descomplicar.

Depois, embora tendo a cidade crescido, crescido, crescido – a dita maleita de elefantíase – como cogumelos em monturos, esta realidade não arrastou consigo os necessários serviços públicos tão procurados, porque necessários e constantes na vida das pessoas; vai daí, o centro da cidade, para mal dos nossos pecados, continua a ser procurado e frequentado insistentemente, seja por quem cá mora, seja por quem visita.

Ora, se pensarmos um pouco, isto é, mais com a cabeça do que com os pés, depressa concluímos que, para se aceder aos hipermercados e aos centros comerciais de maior envergadura que se encontram muito perto do centro da cidade, os engarrafamentos de trânsito são uma dramática realidade; e, assim, depressa chegamos à conclusão de que é mais fácil alcançar o Nova Arcada que fica já bem na periferia do que o Braga Parque, o Mercadona ou o Minho-Center, instalados bem perto do casco urbano.

Pois bem, soluções para resolver tal imbróglio nem com o recurso ao sistema de ver Braga pelo canudo se vislumbram, já que o problemático nó de Infias, há longo tempo na agenda das obras urgentes como sendo a galinha dos ovos de oiro para tudo solucionar, não ata nem desata; assim sendo, a meu ver, só a deslocalização, por artes mágicas, do casco urbano para as periferias poderia trazer alguma luz a este mundo das trevas.

Todavia, como a cabeça dos urbanistas não para, alguma coisita se vai fazendo em prol do alívio desta prisão de ventre rodoviária, mas sem resultados palpáveis e muito menos otimistas para o futuro; e isto, obviamente na minha caustica maneira de ver, não passa de uma mesinha caseira em corpo moribundo.

É o caso da sinalética vertical que começou a ser experimentada por aí, na rodovia e outras vias, a informar os condutores das zonas mais carregadas de trânsito e, como tal, mais demoradas a serem atravessadas; vejamos um exemplo que observei junto ao cruzamento da antiga rua dos Pelames com a Avenida Imaculada Conceição, onde um painel reza assim:

Hospital 8 MIN

Estação C.F. 5 MIN

AE 3 / A 11

Via C. Porto 10 MIN

Via P. Cruz 7 MIN

Agora, analisando tal sinalética com olho clínico, me parece que não ajuda e muito menos resolve o congestionamento do trânsito, dado que as vias alternativas ou não existem ou não oferecem igualmente a necessária fluidez e, mais grave ainda. encontrando-se tais painéis na posição vertical e do lado direito da faixa de rodagem, em vez de facilitar, ainda mais complica a vida de quem conduz e vai contra a segurança da condução, pois os condutores têm ele olhar para o lado direito para fazerem a respetiva leitura informativa.

Por isso, talvez soluções mais engenhosas e menos complicadas, por exemplo, colocando tais painéis sobre a faixa ele rodagem e na posição horizontal, como os que indicam direções e saídas da cidade, a sua leitura seria mais segura porque de mais fácil visão; doutro modo, a manter-se tais medidas como as já implementadas, não me parece que ajudem muito os condutores e, até, podem provocar acidentes, já que, espicaçando a sua curiosidade e a sua atenção, levam-nos fatalmente à distração; e concomitantemente ao risco de insegurança e acidentes.

PS (Post Scriptum) - Agora, e a talhe de foice, vejo que as esplanadas de cafés e restaurantes na zona pedonal da cidade têm crescido a olhos vistos e com certa indisciplina; e como diria o Francisquinho que é homem que sofre de alguma dislalia não havia nexexidade.

Por isso, e já que a pandemia nos trouxe algum descanso vai sendo tempo de disciplinar tais esplanadas; pois existindo elas abundantemente na zona pedonal da cidade, os amantes do pedestrianismo já têm algumas dificuldades em se esticarem, correndo mesmo o risco de sofrerem rebolões e encontrões.

Eu sei que os turistas, os reformados e os que pouco ou nada fazem morrem por uma esplanada, onde vejam passar o mundo à sua frente e possam degustar um bom lanche ou opípara refeição; mas, tudo isto lhes pode ser facultado, com conta, peso e medida, desde que permitam espaço de manobra aos que gostam de curtir uma passeata ou uma voltinha dos tristes, tão em voga na nossa cidade nos meus verdes e fúlvidos tempos de juventude.

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

DM

4 janeiro 2023