O mais grave problema que a escola pública tem de enfrentar nos próximos tempos é a aumentada falta de professores e que já se começa a sentir; e esta situação, para quem já se não lembra, é muito velha, pois já nas décadas de cinquenta e sessenta existiu, levando ao recrutamento de pessoal sem habilitação profissional especifica para a docência e, por isso, apelidado de regentes.
O recrutamento destes pseudodocentes recaia, maioritariamente, no setor feminino e abrangia jovens e menos jovens detentores, preferencialmente, do antigo quinto ano dos Liceus ou equivalente como habilitação; mas tendo-se, em situações especiais, de maior emergência, recorrido a quem possuísse o segundo ano dos mesmos liceus e após a frequência de algumas aulas de preparação e ação pedagógico-didática para o exercício da docência.
Foram, obviamente, tempos difíceis para a afirmação de uma escola pública de sucesso e de efetivo e rigoroso processo de ensino-aprendizagem a que só na década de setenta com a era do ministro da educação Veiga Simão se começaram a desenhar novos rumos para educação pública; além do mais, a frequência escolar não cumpria os objetivos de obrigatoriedade plena, mormente para o setor feminino, mais dedicado às tarefas e exigências caseiras, quer substituindo e ajudando as mães, quer cuidando e tratando dos irmãos mais pequenos e dependentes.
Igualmente o sucesso deste tipo de escola no que ao ensino-aprendizagem concerne não tinha por objetivo primordial formar gerações de jovens para o prosseguimento de estudos, mas, sobretudo, para a aquisição da trilogia: ler, escrever e contar; e, então, conclusão do exame da 4 classe não era comum e, muito menos, acessível a todos os alunos, dada a sua complexidade no que às matérias programáticas dizia respeito, bem como às dificuldades pedagógicas e didáticas que a maior parte dos discentes tinha de enfrentar.
Por isso, sair da escola primária com o exame da 4 classe não estava ao alcance de qualquer aluno o que levava ao abandono da sua maioria da escola, muitas vezes, sabendo, apenas, ler, escrever e contar; e até para que este tipo de escola pública cumprisse o seu primeiro objetivo, os serviços públicos, ou seja do Estado, exigiam aos candidatos a eles concorrentes o diploma da 4.ª classe.
Pois bem, a meu ver, e dado os estudos que se têm feito sobre a problemática da escola pública no que ao recrutamento de profissionais devidamente credenciados diz respeito, a conclusão é a de que os jovens não estão inclinados para abraçar a profissão de professor; e, deste modo, os que vierem a sê-lo será por falta de outra saída profissional e não por verdadeira escolha.
Ademais e no prosseguimento de tais estudos, mesmo os jovens que atualmente são professores põem em causa o prosseguimento da profissão, abandonando o ensino se lhes for aberta a possibilidade de outro emprego; e a esta situação não são alheias as dificuldades porque passa qualquer candidato a professor para constituir família e ter na profissão os atrativos necessários parta a escolher e abraçar.
E sabendo nós que a escola pública precisa cada vez mais de bons professores, dado os tempos complexos que vivemos, esta situação vem complicar ainda mais o seu recrutamento; e deste modo só os menos habilitados e menos procurados para os melhores empregos recorrerão ao ensino-aprendizagem como simples meio e forma de vida.
Pois bem, e se a sociedade não premeia nem apoia como devia a escola pública, como noutros tempos o fazia, mais se complica o recrutamento de bons e motivados professores; e ainda num tempo em que a sociedade em geral e as famílias em particular não dão o valor que devem aos professores dos seus filhos e, até, exigem deles o que não devem nem têm direito a exigir, quando não até os criticam e desvalorizam socialmente, mal vai a escola pública e, consequentemente, a Educação Nacional.
E, ainda sendo verdade que o futuro de qualquer país ainda passa pela Educação do seu povo, muito mal vai o futuro deste nosso país; o que é caso para nos questionarmos: que futuro podem almejar os nossos netos e bisnetos?
Então, até de hoje a oito.