As Presidenciais estão na ordem do dia. A campanha já segue em modo de cruzeiro, pelo menos no que diz respeito a debates. A agulha das conversas inclina-se agora, depois das Autárquicas, para a eleição do novo Presidente dos Portugueses. Os candidatos esgrimem-se e comparam-se, tentam disfarçar isto e aquilo da sua história de vida, fazem crer que se distanciam das suas origens ideológico-partidárias ou dizem que não as têm. Todos querem passar por independentes, quando o não são. Na verdade, ninguém é completamente independente. Nem mesmo quem não milita nem militou em algum partido político. Que ninguém se iluda com as declarações de independência que vão sendo proferidas. Seguindo um ditado popular, vale mais um grama de exemplos do que toneladas de declarações. Em todo o caso, percebe-se, pelo perfil de cada um dos candidatos, quem será capaz de levar a sua independência o mais longe possível e quem faria o contrário se ganhasse as eleições. A prática de cada candidato diz mais sobre a sua verdadeira independência do que o mais elaborado discurso. Não nos deixemos enganar. Já todos ouvimos dizer que “a árvore cai para onde estiver tombada”. Se estivermos preocupados com esta característica num Presidente – a independência face aos partidos políticos –, então tenhamos cuidado para que lado os candidatos se inclinam. É o lado que queremos? Votemos nesse candidato. Se não for, procuremos quem sirva melhor o nosso objectivo. Mas, tenhamos também cuidado connosco. Para que lado nos inclinamos? Pensamos no País? Estaremos no caminho certo?
Na campanha em movimento há discursos formatados ao jeito partidário, ainda que os candidatos se afirmem independentes. Uns não disfarçam sequer, outros não conseguem disfarçar – está-lhes no sangue o tom e a experiência vivida. Mas, Portugal precisa de um Presidente que “sirva o País e não os interesses instalados”. Quem melhor o poderá fazer de entre os que se disponibilizaram para tal? É verdade que o Supremo Magistrado da Nação deverá ser o representante de todos os Portugueses e não de um partido político, mas não é despiciendo que aquele seja um de entre outros. Os partidos políticos devem pronunciar-se sobre quem apoiam, não devem ficar na posição cómoda da indiferença ou, pior, numa posição dúbia, como recentemente aconteceu. Afinal, o Presidente da República é um Orgão de Soberania, o fiel da balança que a todo o momento afere se as decisões políticas do Executivo vão de encontro aos princípios da Constituição.
Pessoalmente, entendo que um Presidente não pode ser pouco isento ou de ressentimentos. O cargo não pode servir ao detentor do mesmo para beneficiar um partido ou uma certa ideologia, nem um meio para um qualquer ajuste de contas. Já que não existe uma independência absoluta, é preciso, ao menos, que haja uma distância razoável entre o eleito e o apoiante. Aquele objectivo de “um Parlamento, um Governo, um Presidente”, algumas vezes formulado ao longo dos últimos cinquenta anos, não é, de todo, aconselhável. De certa forma, a acontecer, seria a própria soberania a ficar em causa. A democracia não pode ser deixada sem fiscalização. Historicamente, o sistema democrático ficou sempre melhor assegurado quando o Presidente era proveniente de área ideológica diferente do Governo. Nas condições actuais, os Portugueses teriam a ganhar se escolhessem um Presidente fora da família política que hoje tem o maior número de deputados e que governa. E, a ser assim, parece-me que António José Seguro será o candidato melhor colocado para contrabalançar a representatividade de sociais democratas e centristas na Assembleia da República e no Governo. Além do mais, já o disse antes, é o candidato de dentro do sistema que mais garantias dá de isenção e independência, para não falar da sua longa experiência política e de ter o humanismo como marca da sua candidatura.