As Federações Desportivas são absolutamente vitais ao desenvolvimento do setor, mas muitas vivem voltadas para dentro, protegidas por estruturas que garantem estabilidade formal, mas que as têm isolado da sociedade e afastado das dinâmicas de inovação e de futuro. O modelo federativo português, embora juridicamente consolidado, mostra sinais claros de fadiga estrutural e cultural. A maioria das federações continua a operar num quadro institucional pensado há décadas, centrado na burocracia e na lógica do controlo, e não na mobilização, na cooperação ou no serviço público. Falta visão consciente e capacidade de renovação, sobretudo na atração e motivação de novos públicos, clubes e formas emergentes de praticar “o seu” desporto. Muitas destas organizações tornaram-se, na prática, estruturas fechadas e autorreferenciais, onde a democracia interna é mais formal do que real. Eleições e assembleias realizadas para cumprir calendário, processos participativos limitados e a permanência prolongada de dirigentes criam sistemas de influência e dependência que sufocam a renovação e a crítica construtiva. A autonomia associativa, consagrada na lei, é frequentemente usada como escudo para preservar interesses, em detrimento da pluralidade e da modernização.
A inovação é rara e, quando surge, é muitas vezes vista como ameaça. Faltam ferramentas digitais de apoio a uma gestão moderna, regulamentos que incentivem a participação, modelos externos de certificação de clubes e dirigentes, e programas de diálogo com os seus agentes (atletas, treinadores, clubes, árbitros) e outras partes potencialmente interessadas. Tudo o que poderia trazer oxigénio e novas ideias é frequentemente travado por um modelo de governação que parece temer a abertura.
As federações vivem ainda fortemente dependentes do financiamento público, sobretudo dos contratos-programa com o Estado, transformando a Utilidade Pública Desportiva (UPD) num monopólio que garante poder formal, mas não assegura relevância social. Em vez de ser uma plataforma de credibilidade e responsabilidade, a UPD tornou-se, em alguns casos, símbolo de imobilismo, reforçando o domínio institucional sem gerar verdadeiro desenvolvimento. É urgente libertar-se dessa dependência, e criar pontes com todos os setores de atividade, mostrando que o desporto é também responsabilidade social, inovação e valor económico. O diálogo com “Escola”, “Universidade” e “Mundo Empresarial”, por exemplo, deve ser visto como parceria, e não como ameaça à autonomia.
Num tempo em que a sociedade é digital, colaborativa e exigente em transparência, o desporto não pode continuar preso a modelos pensados num passado distante. O futuro do movimento federado português depende da sua capacidade de sair do círculo fechado e voltar a servir o propósito que lhe dá legitimidade: desenvolver o desporto, formar cidadãos e inspirar uma sociedade mais saudável e solidária.