“Devemos defender a verdade a todo o custo, mesmo que voltemos a ser somente doze” – esta frase, atribuída a São João Paulo II, ressoa como um desafio espiritual e pastoral que ultrapassa o seu tempo. O Papa polaco, que conheceu as perseguições do totalitarismo e a sedução das ideologias modernas, sabia bem que a Igreja não é chamada a medir-se pelo número dos seus fiéis, mas pela fidelidade à Verdade que é Cristo.
Num mundo em que o consenso vale mais do que a convicção e a popularidade se confunde com a autenticidade, a defesa da verdade torna-se um ato profético. Há quem pense que a Igreja deveria adaptar-se aos ventos culturais, diluir o Evangelho para torná-lo mais aceitável ou silenciar o que é exigente em nome da “inclusão”. Mas São João Paulo II lembrava que a missão cristã não é agradar a todos, e sim testemunhar o que é verdadeiro, mesmo quando isso custa rejeição, ridículo ou solidão.
Voltar a ser “somente doze” não significa nostalgia ou fechamento sectário. É, antes, recordar que a força da Igreja nunca esteve na multidão, mas na comunhão com Cristo. Os primeiros doze Apóstolos, fracos e temerosos, mudaram o mundo porque estavam enraizados na Verdade viva do Ressuscitado – Jesus de Nazaré. A Igreja cresce, não quando se acomoda, mas quando se purifica. Cresce, não quando segue a lógica das massas, mas quando permanece fiel à Palavra que salva e é fermento de Vida.
Defender a verdade “a todo o custo” exige coragem moral e humildade espiritual. Não se trata de impor ideias, mas de servir o bem com amor e clareza. A verdade cristã não é uma arma para vencer debates, mas uma luz que liberta. E essa luz passa por pessoas que não se envergonham do Evangelho, mesmo quando o mundo as considera ultrapassadas. Como seria diferente o debate político se todos os católicos seguissem os ensinamentos de João Paulo II.
Hoje, mais do que nunca, o testemunho de São João Paulo II é atual. A Igreja precisa de discípulos que amem a verdade mais do que a aprovação, que falem com caridade, mas sem medo, que saibam perder o aplauso para ganhar a fidelidade. Porque a verdade – dizia o Papa – “não se impõe senão pela força da própria verdade”.
Se um dia formos “somente doze” novamente, que sejamos doze fiéis, ardentes e coerentes. Doze que rezam, anunciam e amam. Doze que não cedem à mentira nem à indiferença. Doze que compreendem que defender a verdade é, no fundo, defender a dignidade do homem e o amor de Deus por ele. E disso, o mundo de hoje precisa mais do que nunca.