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Os critérios díspares

A arbitragem em Portugal sofre de um mal de difícil resolução: a existência de critérios cuja aplicação está longe de ser uniforme. Isto também se observa a nível internacional, embora de forma menos evidente. Vamos por partes e analisemos os dois contextos, começando pelo panorama internacional.

As competições europeias sucedem-se a um ritmo intenso, impondo aos clubes envolvidos uma gestão cuidada dos seus recursos humanos. São vários os exemplos em que o contexto externo interfere no interno, para o bem ou para o mal.

Portugal viveu uma semana profícua nos resultados europeus, que o colocam em melhor posição para recuperar terreno aos neerlandeses e, ao mesmo tempo, ganhar folga sobre os belgas. Para este raro sucesso contribuíram as vitórias de FC Porto, SL Benfica e Sporting CP, às quais se juntou o empate dos bracarenses no difícil terreno do Rangers, onde o SC Braga jogou muito tempo com um elemento a menos e onde a arbitragem esteve longe de ser “feliz”. Na Escócia, os minhotos tiveram o azar de lidar com um árbitro estreante dos Países Baixos, um concorrente direto de Portugal no ranking europeu, que avaliou de forma distinta lances semelhantes de mão na área, com claro prejuízo para o lado português.

Ainda mais fresca na memória está a final da Libertadores, onde o Palmeiras teve uma prestação inferior, mas viu o videoárbitro deixar passar impune um lance de expulsão que poderia ter mudado o rumo do jogo, que acabaria por pender para o Flamengo. Contudo, nessa partida não houve lances iguais com decisões diferentes, o que se saúda.

Por cá, o cenário é um autêntico fartote de lances semelhantes com julgamentos opostos, muitas vezes tomados por árbitros diferentes e, pasme-se, até pelo mesmo árbitro dentro da mesma partida ou em jogos distintos. Por isso, não vou dar qualquer exemplo prático, porque são demasiados. Os beneficiados são quase sempre os mesmos, embora por vezes se abram exceções para favorecer outros, mantendo-se sempre como pano de fundo os mesmos três clubes do sistema.

Um erro que, muito esporadicamente, prejudique um dos três clubes autoproclamados grandes assume proporções ampliadas por uma comunicação social sempre sedenta de sangue, que geralmente provém das feridas dos clubes mais pequenos, abertas por decisões erradas das arbitragens, também elas vítimas de uma pressão inaceitável que é exercida sobre os seus agentes. Os dirigentes portugueses, tal como alguns treinadores, são fortes no discurso quando se trata dos mais fracos cá dentro, mas lá fora são reduzidos à sua real dimensão, revelando a pequenez que não lhes permite pressionar da mesma forma.

Uma palavra final para os árbitros, que têm uma missão difícil, tornada ainda mais complexa pela pressão que lhes é exercida através dos truques mais arcaicos que se possa imaginar. Além disso, também os jogadores são trabalhados nos clubes com o objetivo de enganar, da melhor forma possível, os árbitros, o que acentua ainda mais as dificuldades dos homens do apito. Não pretendo com isto desculpar decisões inaceitáveis, que resultam de pura incompetência e devem ser devidamente penalizadas.

Os critérios díspares na arbitragem exigem, com urgência, uma aplicação coerente, que beneficie o futebol em geral e promova o aumento da competência global.


 

António Costa

António Costa

4 dezembro 2025