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Amai-vos. Não: armai-vos

1. Está na Internet. Quem tiver oportunidade reveja o filme «Sua Excelência o Embaixador» e releia o discurso que Cantinflas proferiu na Assembleia das Nações. 

Os participantes estavam divididos em dois blocos, os verdes e os vermelhos, e nenhum deles encontrava solução para os graves problemas da Humanidade. 

A solução, afirma Cantinflas a terminar o seu discurso, deu-a há dois mil anos o humilde carpinteiro da Galileia, simples, descalço, sem fraque nem condecorações, quando afirmou: amai-vos uns aos outros.

Desgraçadamente as suas palavras foram deturpadas. Os homens confundiram os termos e em lugar de amai-vos uns aos outros o resultado foi este: armai-vos uns contra os outros.

(Cantinflas é o nome artístico de Fortino Mário Afonso Moreno Reys,  comediante, produtor e ator mexicano que nasceu a 12 de agosto de 1911 e faleceu a 20 de abril de 1993. O filme a que faço referência é de 1967).


 

2. Há quem não goste que o diga mas, em meu entender, a verdade é esta: a solução para os problemas que nos afligem está no regresso ao Evangelho. Evangelho praticado na sua autenticidade. Sem habilidades acomodatícias.

O mundo regressou à corrida aos armamentos. Ao clima da que se julgava extinta guerra fria. Gasta-se com armas o que devia ser canalizado para a saúde, a educação, a habitação, o verdadeiro desenvolvimento dos povos.

A guerra, penso, seria evitável se se não tivesse convertido num lucrativo negócio. No negócio para quem fabrica e vende armas para destruir. Negócio para quem produz e comercializa materiais destinados a reconstruir o que a guerra destruiu. 

Quem ganhou com a destruição de Gaza e quem vai lucrar com a sua reconstrução? Quem ganha com a guerra na Ucrânia e vai lucrar para reerguer aquele país?


 

3. É urgente proceder ao desarmamento e este tem de principiar no coração das pessoas, onde as guerras têm começo. Libertá-lo de sentimentos que lã não devem estar: ódio, inveja, vingança…

É urgente colocar o dinheiro no seu lugar – é meio e não fim – e pôr termo à economia que mata. Como é urgente esquecer Marx e reaproximar Jesus. 


 

4. Quem domingo participou na Missa ouviu um texto de Isaías que anunciava profeticamente a missão de Jesus: construir um mundo em que os homens se entendam. Um mundo onde «o lobo viverá com o cordeiro, e a pantera dormirá com o cabrito; o bezerro e o leãozinho andarão juntos, e um menino os poderá conduzir. A vitela e a ursa pastarão juntamente, suas crias dormirão lado a lado; e o leão comerá feno como o boi. A criança de leite brincará junto ao ninho da cobra, e o menino meterá a mão na toca da víbora».


 

5. O mundo novo anunciado por Isaías concretiza-se pondo em prática o mandamentos de Jesus: amai-vos uns aos outros. 

Exige um novo comportamento entre os homens. Exige que as pessoas possam confiar umas nas outras. Que o homem não seja um lobo para o outro homem, como sugere a ideia do lobo e do cordeiro a habitarem juntos.

Depende dos homens que deixem de existir no mundo a maldade e a violência. Que as máquinas de guerra sejam convertidas em relhas de arado.


 

6. É mais que necessário construir um mundo baseado na justiça, no amor, no relacionamento fraterno, na reconciliação, no perdão. Um mundo sem ódio, sem egoísmo, sem rivalidades, sem ambições desmedidas, sem inveja nem vingança.

Onde os homens saibam aceitar-se, apesar da diversidade de feitios, de mentalidades, de maneiras de ser. Procurem passar da coexistência à convivência e, sempre que possível, à amizade.

A paz é obra da justiça e esta exige o respeito pelo outro na sua dignidade e nos seus direitos. Resulta da força do direito e não do direito da força. 

Haja bom senso e vontade e a paz virá. Mas a palavra de ordem é: amai-vos.

Silva Araújo

Silva Araújo

4 dezembro 2025