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A bola não é quadrada

O futebol português vive momentos de grande incerteza, para os quais muito contribuem os dirigentes dos principais clubes, sempre prontos a justificar os seus insucessos com o trabalho alheio e com eventuais erros que dele possam advir. Os árbitros continuam a servir como perfeito escape quando é preciso camuflar más decisões dos próprios responsáveis, sejam eles dirigentes, treinadores ou jogadores.

A arbitragem é, por natureza, uma função extremamente exigente, pois requer decisões corretas em tempo real. Felizmente, existe hoje a preciosa ajuda do “Video Assistant Referee!” (VAR), traduzido para português como “Árbitro Assistente de Vídeo”. As dificuldades dos árbitros agravam-se quando a pressão é exercida antes dos jogos e reforçada por críticas ferozes, muitas vezes, após o apito final. A performance dos elementos da arbitragem só pode melhorar com formação adequada e com a aplicação de critérios que uniformizem, tanto quanto possível, as decisões tomadas por pessoas diferentes perante lances semelhantes.

As recentes reuniões entre os presidentes dos quatro principais clubes e os responsáveis da FPF e da Liga Portugal procuram encontrar caminhos que permitam recolocar o futebol português nos trilhos do sucesso, perdidos ao longo dos anos. A evolução do futebol em Portugal está diretamente ligada à posição no ranking europeu, que pode garantir maior entrada de receitas nos cofres dos clubes e dar mais visibilidade aos espetáculos nos relvados nacionais, que tendem, por norma, a ser nivelados por baixo, diminuindo o interesse de potenciais compradores de direitos televisivos internacionais.

As mudanças necessárias exigem o envolvimento de todos os clubes, mesmo que os trabalhos preparatórios devam ser conduzidos por equipas mais restritas, como acontece nestas reuniões. Um plenário demasiado alargado tem maiores dificuldades em produzir propostas consensuais para posterior apresentação. É fundamental criar condições para que a competitividade interna aumente significativamente e se reflita, mais tarde, a nível internacional.

O futebol atual requer que a bola seja tratada como aquilo que é: redonda, para promover a sua melhoria constante. A bola não é quadrada, ao contrário do que se ouve amiúde. Quando maltratada, pode, no limite, ser comparada a um cubo em termos volumétricos. Recorde-se, porém, que o cubo é composto por seis quadrados, e que a distância entre essa figura e a ideia de uma “bola quadrada” é considerável, pois o quadrado pertence ao mundo bidimensional – com comprimento e largura – enquanto o cubo é tridimensional, acrescentando a profundidade que lhe dá volume.

Que se reflita, pois, e se faça evoluir o futebol, encontrando um caminho sólido para que a bola redonda possa fluir naturalmente.

A bola voltará a rolar nas Caldas da Rainha, onde o SC Braga disputará a próxima eliminatória da Taça de Portugal. O vencedor jogará depois, na condição de visitante, contra o Lusitano de Évora ou a AD Fafe. O sorteio foi teoricamente favorável, protegendo a equipa que mais jogos disputou em Portugal nesta temporada. Beto retirou as bolas das próximas duas rondas e parece ter sabido “escolher”, continuando a ser bem visto por Braga. 

António Costa

António Costa

27 novembro 2025