Depois de 12 de outubro, Braga acordou com um cenário político fragmentado. Muitos vaticinavam a ingovernabilidade; outros apostavam em cenários de coligação que compreendias todas modas e partidos. Face a estas dificuldades de governação, é importante entendermos qual a posição de um independente neste cenário.
Contudo, antes de partirmos para essa premissa, é importante percebermos a retórica evangelizadora deste movimento, que quase parece que, a qualquer momento, Ricardo Silva e os seus fiéis seguidores podem começar a distribuir as suas “bíblias sagradas” na avenida. No dicionário português, definimos independência como: “qualidade ou condição do que ou de quem não é dependente de algo ou de alguém”. Ora, neste sentido, é muito estranho ler a frase: “Nós dissemos que não, porque funcionamos como um bloco eleito e que teve a confiança de 21 mil eleitores, e portanto não faz sentido estar a partir o grupo de trabalho.” Este comportamento de dependência do grupo faz lembrar aquilo que os maus partidos por vezes têm de pior – mas isto não surpreende ninguém que seja atento ao movimento Amar e Servir Braga. No topo deste movimento, temos ex-militantes de partidos que entravam e saíam conforme o interesse que tinham nos resultados obtidos. Fomos ainda presenteados com a candidatura de militantes de extrema-direita e tudo isto foi tido como uma bênção e a favor da democracia. Hoje, sabemos que já ensaiaram palavras de recuo e que afinal são intransigentes perante a possibilidade de assumirem pelouros.
Esta realidade permite-nos uma conclusão muito objetiva: Amar e Servir Braga apresentou apenas reflexos pavlovianos de membros que nunca triunfaram nos seus partidos e que, por isso, decidiram vestir-se de Dom Quixote e Sancho Pança (personagens pelas quais tenho a mais profunda admiração literária), desafiando moinhos políticos e esquecendo a principal mensagem de Cervantes: um herói é alguém que, independentemente das circunstâncias e dos grupos, decide fazer aquilo que está correto, sem dependências de associações ou agregados. E assim se constrói o slogan político deste movimento: “amar o grupo, servir o grupo”.
E com isto, chegamos a Catarina Miranda, que não conheço pessoalmente, mas por quem senti um especial apreço no momento em que percebeu qual seria o seu papel como independente. Entendendo que um verdadeiro independente não pode estar dependente de grupos ou de pressões partidárias, Catarina Miranda percebeu que, face às circunstâncias, teria obrigatoriamente de tomar uma decisão quixotesca: Ser fiel a um partido que, no pós-eleições, foi infiel aos bracarenses que o elegeram; ou olhar para as circunstâncias e garantir aos bracarenses a governabilidade, assegurando que a missão difícil de governar com três vereadores seria menos complicada com um nome independente a representar os bracarenses.
Nesta viagem contra os muitos moinhos bracarenses que iremos testemunhar nos próximos quatro anos, estou certo de que o Presidente da Câmara, João Rodrigues, fez aquilo que tinha de fazer. Foi humilde, entendeu que os bracarenses queriam uma governação que incorporasse personalidades eleitas por outras forças políticas e não teve qualquer problema em atribuir o importante pelouro da Cultura a uma vereadora independente que, para todos os efeitos, não era a sua escolha natural no pré-eleições, mas que claramente foi uma escolha de todos os bracarenses. Este foi o primeiro passo para os bracarenses sentirem aquilo que João Rodrigues tem demonstrado em todos os momentos: que é apenas mais um dos muitos bracarenses orgulhosos da sua cidade e que vai assumir a responsabilidade e o orgulho de ser o Presidente de todos os bracarenses, sempre com trabalho e uma visão clara para a cidade de todos nós.