Por vezes sinto necessidade de partilhar pensamentos ou experiências. Habitualmente, faço-o com grupos de amigos. Hoje, ouso alargar essa ambição e conversar com os leitores do Diário do Minho.
A Igreja está a celebrar a Semana dos Seminários (de 2 a 9 de novembro). Com objetivos bem definidos, interpela a comunidade cristã através de uma breve, mas significativa, frase. Este ano, o lema é. “Precisamos de Ti.” Um lema profundamente interpelativo, aberto a múltiplas interpretações
Os organizadores desta Semana quiseram sublinhar assim o entendo a convicção de que os Seminários, antes de todas as outras dimensões e preocupações, igualmente relevantes, devem ser uma experiência quotidiana da presença de Cristo. Trata-se de um “Ti” com T maiúsculo. Esta é, verdadeiramente, a prioridade das prioridades.
Sabemos que Jesus chamou, de entre os discípulos, um grupo específico para estar mais de perto d' Ele. Muitos O procuravam, desejando vê-Lo, ouvir as Suas palavras e, não raras vezes, testemunhar a Sua força profética através de milagres. Porém, alguns foram convidados a permanecer com Ele de forma mais íntima, a fim de viverem uma experiência transformadora que marcasse a sua vida e os preparasse para enfrentar as alegrias – mas também os desafios da missão.
Os tempos de hoje exigem que se redescubra esta experiência de proximidade. O Seminário serve para ensinar, conviver, confirmar opções, mas, antes de tudo, existe para estar com Ele. Por isso, todos devemos rezar para que Jesus esteja presente na comunidade e seja Ele e só Ele a transmitir as qualidades que os pastores devem possuir. Os Seminários precisam de Ti.
Numa outra perspetiva, devemos afirmar que os Seminários precisam de ti, isto é, de todos os membros desta comunidade diocesana. Eles não pertencem apenas a alguns, pertencem a todos com tudo o que isso implica. Dizem respeito a cada um de nós e necessitam da nossa colaboração: na oração, na partilha de bens, no amor concreto e discreto de tantas formas de serviço. É fácil esperar e desejar.
Vivemos este ano o Ano Santo, tempo em que somos convidados a redescobrir que somos Peregrinos da Esperança. É comum esperar passivamente, não tanto em termos de direitos, mas numa esperança inativa. No entanto, a "esperança que não engana" é aquela que intervém, participa, que se envolve e semeia para poder colher. Terei eu, cristão, o direito de esperar algo do Seminário se não o assumo como meu?
Que esta Semana desperte nos corações dos cristãos a intenção de colocar o Seminário nas suas orações, pois o Seminário continua a dizer: "Precisamos de ti."
Devemos ainda dar mais um passo. Também as nossas comunidades podem e devem afirmar "Precisamos de ti. Seminário."
Com serenidade e espírito de fé, olhemos o cenário atual em termos de número de sacerdotes. Com frequência comparamos o número de paróquias com o número de presbíteros. Contudo, não devemos cair na lamentação. Não podemos fugir a responsabilidade de uma conversão pastoral, exigência de uma Igreja Conciliar e Sinodal, onde todos sem excluir ninguém - são chamados a colocar ao serviço das comunidades os dons e talentos recebidos.
O sacerdote continuará a ser o pastor que congrega na unidade e se assume como aquele que vai à frente desta peregrinação existencial.
Dai que as comunidades, paroquiais e não só, digam também: "Precisamos de ti, Seminário.” Mas qual é o contributo concreto das comunidades para que o Seminário possa responder a todas as necessidades pastorais e humanas?
Por último, mas não menos importante, também a sociedade civil nos diz: "Precisamos de ti."
Sabemos que a missão da Igreja ultrapassa os limites dos templos e dos espaços anexos O cristianismo nasceu para ser fermento num mundo que caminha à luz dos valores evangélicos. Já tivemos uma sociedade mais ou menos referenciada pelo cristianismo; hoje, porém, muitos seguem caminhos opostos. É missão da Igreja "sair" para se encontrar com tudo o que é humano com as suas alegrias e tristezas, problemas e desafios. A nossa sociedade precisa de um fermento evangélico. Não existem mundos estranhos onde a presença da Igreja deva ser proibida. E certo que nem todos os modos de presença são igualmente adequados, mas todos esses mundos necessitam da novidade transformadora que só Cristo pode oferecer. Também a sociedade civil está a clamar "Precisamos de ti."
Porque precisamos de Cristo nos Seminários e destes ao serviço da Igreja, aproveitamos este momento para agradecer a quantos se dedicam a esta delicada missão,
Obrigado. Nos tempos difíceis, a doação tem mais valor.