Na nossa cultura, costumamos dizer que se conhecem verdadeiramente as pessoas, após a morte de alguém. Os viúvos, os filhos e os irmãos mostram o quanto se estimam e amam, ou não, pela forma como reagem nas partilhas e aceitação dos termos testamentários e da vontade daqueles que partiram.
Muitas vezes, ainda no velório e nas cerimónias fúnebres já há mau ambiente e discussões sobre a parte que calha a cada um. Além da morte física de alguém, morrem ali também a paz e a convivência de muitos parentes.
Estas palavras introdutórias trago-as a propósito da recente tomada de posição de diversos países em reconhecer o Estado da Palestina, como já o tinham feito com o Estado de Israel.
Ambos os Estados estão agora quase equiparados em número de países, representados nas Nações Unidas, que os reconhecem oficialmente. Se, por um lado, os tradicionais aliados de Israel recusam reconhecer a Palestina, também a maioria dos países árabes não reconhecem a nação judaica.
Sabemos pelas leis da física, que dois objetos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Por isso, tem sido muito difícil a coexistência de dois Estados num mesmo território.
A Terra Santa, deixada em herança, pelo patriarca Abraão aos seus descendentes, viveu quase sempre em sobressalto, seja pelas invasões e ocupações de povos estrangeiros, seja pelo conflito entre os filhos de Abraão: judeus, cristãos e muçulmanos. Israelitas, Nazarenos e Ismaelitas nunca se entenderam, reclamando cada qual a posse e a legitimidade de habitar as terras que o Pai dos Crentes lhes legou, quase sempre pela força das armas.
Estamos muito longe das deliberações das Nações Unidas que, após a 2.ª Guerra Mundial, defenderam a divisão da Palestina Britânica em dois estados: um para os judeus (Israel) e outro para os muçulmanos e cristãos (Palestina).
Sabemos que a lei que imperou foi a do mais forte e a lei talião (olho por olho e dente por dente). A Palestina viu os territórios a serem anexados e colonizados por Israel.
Nunca quiseram pôr em prática a ideia do saudoso Papa Paulo VI que apoiava a existência de dois Estados e que a cidade de Jerusalém fosse uma cidade internacional, de todos e para todos, e administrada pelas Nações Unidas. Certamente, Jerusalém faria jus ao seu nome que significa «Cidade da Paz».
Desejo a pacificação da Terra Santa, para que todos possam viver em sadia convivência, mas tal só será possível quando o amor à paz, à sua terra e aos seus filhos, for maior que o ódio aos israelitas ou aos palestinianos.
Tenho amigos e pessoas conhecidas nos dois lados da barricada. Conheço as suas posições e realidades. Sei que todos sofrem e anseiam a paz. Todos têm razões e todos também já perderam a razão. A profecia de Jesus, registada no evangelho segundo São Marcos, capítulo 13: «Vês estas grandiosas construções? Não ficará delas pedra sobre pedra; tudo será destruído.», há muito que já se cumpriu…
Possamos nós, agora, apanhar todas as pedras tombadas na Terra Santa e reconstruir a terra sonhada e desejada por Abraão para todos os seus descendentes, sejam filhos de Israel, de Ismael ou da Igreja de Jesus.