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No futebol, inovar é diferente de… inventar

A criatividade é, em qualquer área - empresa, desporto, ensino, música, arte, cinema - um valor indiscutível e a preservar. O problema, muitas vezes, não é a criatividade em si, mas a sua ausência, substituída pelo velho vício do copy paste que a era digital promoveu e potenciou de forma exponencial.

No futebol, esse fenómeno é bem evidente. Basta surgir uma novidade tática ou estratégica para, de imediato, ser clonada por quem não consegue ver além do óbvio. Copia-se porque alguém de renome o fez, sem perceber se faz algum sentido no contexto da própria equipa.

Recordemos o “futebol à Barcelona” de Guardiola: posse de bola permanente, saída desde a baliza, de pé para pé e circulação permanente no meio campo ofensivo. Funcionava? Claro. Mas o Barcelona tinha jogadores em que a bola era uma extensão do próprio corpo com a academia - La Masia – a produzir em série, este tipo de futebolistas. Já outros, menos dotados, ao tentarem imitar, acabam a perder jogos por defesas centrais com “dois pés direitos”, tentarem sair a jogar - os esquerdinos percebem o que eu quero dizer. 

Recentemente, Guardiola voltou a inovar com outra estratégia: no início de jogo, atrasar a bola ao guarda-redes para este bater forte, longo e para zonas pré-determinadas. E quando o guarda-redes se chama Ederson (esquerdino, por sinal), capaz de colocar a bola milimetricamente em qualquer espaço do campo, a ideia até pode fazer (algum) sentido. O problema surge quando, quem copia, não tendo um Ederson à mão, acredita que se Guardiola o manda fazer, é porque…

Eu que gosto de questionar amiúde certas situações, deixo a pergunta: se a bola já está no meio-campo, por que razão se devolve ao guarda-redes para ele a pontapear e, quando temos essa oportunidade, nas saídas da baliza, pedimos para jogar curto? Confesso a minha ignorância, mas ainda não encontrei (o Guardiola a jeito, para me dar) a resposta.

Outro vício cada vez mais recorrente, é o de colocar jogadores em posições que não aquelas onde se destacaram, em toda a sua carreira. Extremos adaptados a laterais (JJ – o pseudo criador) podem ser solução, mas dificilmente renderão mais do que um lateral de raiz, principalmente se na sua equipa a função defensiva for muito solicitada ao longo do jogo. Aceita-se melhor, em equipas que tenham maioritariamente posse de bola e assumam constantemente a liderança do jogo. Obviamente, o futebol, com resultados menos conseguidos, cobra caro - com chicote - a estes “putativos criadores”. E quem fala em extremos, fala em médios adaptados a centrais, em médios ofensivos encostados às alas ou em pontas de lança a fazer de nº 10. Inovar com guarda-redes a ponta de lança? Já faltou mais.

No desporto como na vida, a criatividade é bem-vinda. O que não faz sentido é copiar sem questionar.

A verdadeira inovação não está em repetir fórmulas alheias, mas em descobrir as que resultam com os jogadores - e com a realidade – de que dispomos. Até porque, no futebol em particular, inovar e inventar não são - em muitos contextos – propriamente, sinónimos. 

Carlos Mangas

Carlos Mangas

12 setembro 2025