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Incêndios em Portugal

Ano após ano, os incêndios florestais voltam a devastar o país, com uma intensidade que nos comove e surpreende.

As chamas, que devoram milhares de hectares de floresta, destroem casas, colocam as populações em aflição, dizimam a biodiversidade e agravam a desertificação das zonas rurais.

É inegável que as alterações climáticas têm tornado os verões mais quentes, secos e longos – condições ideais para a propagação do fogo. Mas culpar apenas o clima é ignorar responsabilidades que são também humanas.

A má gestão do território dos últimos anos, o abandono do mundo rural, o desordenamento florestal, a falta de limpeza dos terrenos e o modelo económico que privilegia o eucalipto em detrimento de espécies autóctones mais resilientes agravam de forma dramática a nossa vulnerabilidade.

Por isso, é essencial avançar com medidas efetivas de ordenamento do território, que reorganizem o uso do solo e promovam paisagens mais resistentes ao fogo. Não se trata apenas de evitar tragédias; trata-se de reconstruir uma relação equilibrada com o território e garantir a sua sustentabilidade a longo prazo.

Também a justiça deve desempenhar um papel mais firme. Os incêndios de origem criminosa continuam a ser uma realidade perturbadora em Portugal, muitas vezes sem consequências visíveis. É fundamental que o Estado identifique e puna exemplarmente os responsáveis por estes atos, não só para aplicar justiça, mas também para dissuadir comportamentos criminosos que colocam vidas em risco e devastam ecossistemas inteiros.

Trinta e seis pessoas foram detidas este ano em flagrante delito pelo crime de fogo florestal e 525 identificadas, revelou esta semana dados da GNR, segundo os quais foram registados 2979 crimes de incêndio.

Salientou-se ainda, em comunicado, que este ano foram sinalizadas, em todo país, 10.417 situações de falta de limpeza de terrenos.

Perante esta situação a Guarda Nacional Republicana referiu que tem vindo a reforçar, de forma significativa, o seu empenhamento na prevenção e no combate aos incêndios rurais.

Por parte do poder político começam também a surgir sinais de resposta mais eficaz. O Ministro da Economia e da Coesão Territorial, Castro Almeida, já anunciou de forma célere um conjunto de medidas de apoio às populações e territórios afetados, com enfoque na reconstrução, prevenção e reforço das capacidades locais. Essa resposta rápida é positiva e mostra uma maior consciência da gravidade do problema.

Portugal não pode continuar a arder todos os verões como se fosse uma fatalidade sem solução.

E no meio disto tudo mulheres e homens arriscam a vida todos os dias para proteger pessoas, casas, florestas e o nosso património natural, são os nossos bombeiros a quem deixo uma palavra de profunda gratidão e solidariedade.

Paulo Cunha

Paulo Cunha

7 agosto 2025