O ser humano foi posto aqui na terra pela mão de Deus, que quis oferecer-lhe as possibilidades de viver pacificamente, conseguindo com o trabalho diário o seu sustento. Certamente que há uma diferença fundamental entre Deus e o homem: Deus é omnipotente, o que implica também uma sabedoria completa de tudo o que existe. Por isso dizemos, com razão, que Deus é omnisciente, ou seja que conhece e sabe tudo dum modo perfeito e absoluto. Nada escapa à sua capacidade cognitiva, pelo que não Lhe podemos esconder a mínima ideia ou intenção que formulemos.
Criando-nos à sua imagem e semelhança, como se diz no Génesis (I,26), somos parecidos com Ele. Pelo conhecimento que conseguimos alcançar sobre o mundo e a vida, podemos fazer aquilo que sabemos que é um bem, ou que é um mal. E esta capacidade manifesta outro dom que Deus nos deu ao criar-nos, que é a liberdade. Somos seres livres, capazes de caminhar por vias que nos conduzem ao bem ou ao mal. E isto com responsabilidade nossa, porque o que fazemos é fruto da nossa vontade, da nossa inteligência e também da nossa afectividade..
Deus concedeu-nos este dom certamente para que um dia possamos alcançar o fim para que nos criou, que é participar de forma definitiva na sua felicidade perfeita, ou seja, vivermos para sempre na alegria completa e inabalável do Reino dos Céus. Santa Teresa de Ávila, repetia, a respeito desta realidade a expressão elucidativa de o Céu ser “para sempre, para sempre”.
Seremos totalmente felizes, se, durante esta vida terrena, que é passageira, aceitarmos aquilo que Deus nos põe à disposição para atingirmos esse fim, que exige, da nossa parte, empenho e esforço por sermos fiéis àquilo que nos é proposto fazer.
Seguir o que Deus nos pede exige-nos esforço e dedicação. Por vezes, até, pode parecer-nos irrealizável, ou por nos esquecermos de que a Sua ajuda para seguirmos a via do bem é efectiva e dela necessitamos para ultimar da maneira correcta aquilo que nos é pedido, ou porque nos encolhemos a nós mesmos numa espécie de refúgio do nosso eu, fechando todas as janelas que nos mostram que, embora difícil de cumprir, aquilo que Deus nos pede, quando é feito, sempre nos faz sentir alegres e que valeu a pena ser fiel.
Com frequência, descobrimos que não seguimos plenamente as sugestões da vontade divina, ou, mais ainda, que repudiámos de modo absoluto realizar o que nos era inspirado pelo nosso Criador. Devemos, certamente, arrepender-nos, pedindo-Lhe desculpa pela nossa conduta. E sabemos que o amor de Deus por nós é tão vasto, que o seu perdão não se limita a sete vezes, mas a setenta vezes sete, como Jesus ensinou a S. Pedro. Uma bitola tão complacente deste acto, revela-nos claramente que a margem do perdão divino é muito vasta. Mas isso não significa, da sua parte, desleixo ou desinteresse pelo modo de nos comportarmos. Tal capacidade deve-se, essencialmente, ao amor que Deus nos presenteia e ao seu sentido de responsabilidade perante a vida que nos deu. Criou-nos para sermos felizes no Céu. Concluindo: Deus tudo faz para que um dia o alcancemos. O que não deve interpretar-se, repetimos, como atitude de arrependimento pela nossa criação. Pelo contrário, a sua capacidade de perdão é fruto do seu amor incomensurável por nós. Repetimos: criou-nos para o Céu e tudo põe à nossa disposição para que o conquistemos, sem nos negar, obviamente, a possibilidade de rejeitar, como seres livres (assim nos criou), esta sua proposta, proveniente, repetimos, do amor imenso que nos devota.