Entrou em funcionamento no passado dia 10 de setembro (dia mundial de prevenção do suicídio), a Linha Nacional de Prevenção do Suicídio e Apoio Psicológico. Este serviço autónomo está integrado no SNS 24, tendo ‘1411’ – como número próprio e específico – é assegurado por psicólogos e enfermeiros especialistas em saúde mental e psiquiatria. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, ocorreram, em 2022, último ano de que há dados, em Portugal, cerca de 970 mortes por suicídio e lesões auto-provocadas, isto é, à média quase de três pessoas por dia.
1. Segundo as entidades oficiais o objetivo da designada ‘Linha Nacional de Prevenção do Suicídio e Apoio Psicológico’ – de acordo com a Portaria n.º 291/2025/1, de 4 de setembro, que estabelece o regulamento da Lei n.º 17/2024 – que criou esta linha nacional, consiste em assegurar “um serviço de apoio especializado, prestado por profissionais de saúde mental, que possam responder a qualquer solicitação relacionada com ideias e comportamentos suicidas”.
2. Efetivamente no tempo posterior à pandemia – isto é, depois de 2023 – temos visto e assistido a uma mudança significativa do comportamento de muitas pessoas – numas mais percetível e noutras um tanto camuflado – naquilo que se refere às mutações psicológicas e do foro mental. Com efeito, desde logo nas crianças temos mudanças que roçam o esquisito, senão mesmo o complexo: sinais de intranquilidade, de insegurança – fruto da superproteção dada até na fase de gestação – vão sendo captadas em momentos em que saem da bolha familiar, mesmo que esta se possa reduzir à mãe ou ao pai… Da experiência colhida em momentos celebrativos (sobretudo) de batismos me fui apercebendo que há um trabalho psicológico-mental a exercer com verdade e humildade. Pelo bem que nos merecem as crianças geradas e nascidas, por ocasião do covid-19, não facilitemos o que deve ser feito, já.
3. As temáticas de índole psicológica e mental devem ser cuidadas e tratadas com respeito, com capacidade de atender a cada pessoa, com investimento no futuro e, sobretudo, numa visão abrangente da pessoa no seu todo, seja qual for a sua personalidade. Cada vez mais os tipos de doença do foro psicológico se manifestam – por vezes nem distinguindo as idades – mais cedo e sob diversas formas. Os transtornos mentais podem ser de várias categorias: de ansiedade (fobias e pânico), de humor (depressão e bipolar), psicóticos (esquizofrenia), de personalidade (afetando o comportamento), relacionados com o uso de substâncias (álcool, drogas), relacionados com traumas e stress… A origem das doenças mentais pode estar ligada a fatores genéticos e ambientais. A compreensão de um substrato neurológico para algumas dessas doenças é crucial.
4. Precisamos, cada vez mais, de saber e de tratar estas doenças, pois da sua resolução depende o bem-estar das pessoas, individual, familiar e socialmente. É necessário e essencial o diagnóstico para um tratamento mais eficaz. A procura de ajuda profissional é fundamental para debelar algo que possa estar relacionado com uma doença psicológico-mental, tal como tratamos outras doenças de âmbito somático. A importância da saúde mental é marcante para todos os níveis da vida, desde o nível laboral até ao equilíbrio familiar, passando pela correta relação social.
5. Numa leitura psicológico-social da tristeza – tão comum e quase normal no nosso tempo – o Papa Francisco alertou-nos: «existe uma tristeza que convém à vida cristã e que, com a graça de Deus, se transforma em alegria: evidentemente, ela não deve ser rejeitada e faz parte do caminho de conversão. Mas existe também uma segunda figura de tristeza, que se insinua na alma, prostrando-a num estado de desânimo: é este segundo tipo de tristeza que deve ser combatido com determinação e com toda a força, porque deriva do Maligno» (audiência geral, 7 de fevereiro de 2024).
Não será de atender com mais cuidado a certos sinais de tristeza em nós e à nossa volta? Seremos tristes por arrependimento ou por assomo de doença?