twitter

ECOS DO NOSSO MUNDO Os grandes feitos nacionais

 

 

Nos Estados Unidos da América, quando alguém tem de fazer prova para ganhar o emprego, há uma pergunta que nunca falha no teste: “e o que é que já fez pela América?”

Se isso fosse perguntado a várias centenas de indivíduos e a outras centenas de políticos que nos têm governado, estou certo que ficaríamos tristes, talvez com risadas irónicas e talvez até lhe virássemos as costas. A pobreza de feitos em Portugal, em qualquer vila ou cidade, é, como diria o jornalista Agostinho Caramelo, “de fartar vilanagem”.

Pode haver, caro leitor, quem possa ter pejo pela afirmação que vou fazer. Se for o seu caso, peço antecipadamente perdão, mas vamos à afirmação: pelos feitos em Portugal após a democracia, “se Salazar fosse vivo e se se candidatasse a primeiro ministro, acredito que ganhava as eleições”.

Mas declaro também, que conheci e sofri na pele certas políticas de Salazar. Fui proibido de SER, de TER e até numa guerra tive de participar. Salazar, nem a 4.ª classe me deu, quanto mais o resto que consegui, a trabalhar e a fazer exames como aluno externo. Tantos anti-salazaristas de hoje, tudo lhe devem, pois estudaram nas suas Salas.

Mas Salazar fez obra! Tem feitos! Quem desconhece o Bairro Social do Arco do Cego, o Aeroporto Internacional da Portela, a Cidade Universitária de Lisboa, a Ponte sobre o Tejo, o Estádio 28 de Maio, a Rádio Televisão Portuguesa, para não citar muitíssimas mais obras públicas que bem se conhecem do Minho ao Algarve? Não ganharia o velhote as eleições, com todos estes feitos?

Após o 25 do quatro, que fizeram os governantes e onde estão os grandes comerciantes ou industriais deste país? Mas serei eu que sou má-língua? Não é verdade que tanto uns como outros apenas vêem dinheiro, poder, e não surgem quase diariamente indivíduos a meterem a mão no saco em qualquer actividade pública ou privada? Não é verdade que o líder do Chega atingiu o alto da montanha, porque se agarrou ao problema da corrupção e outros podres sociais que ninguém resolve e que muitíssimo poucos rapaces se julgam?

Feitos em Portugal, os grandes feitos! Nem as estradas esburacadas e remendadas, resolvem. Então nesta minha Bracara Augusta, remendos e buracos não faltam. Nem tão pouco pintam no alcatrão os sinais de trânsito, as linhas longitudinais contínuas ou descontínuas, as passadeiras para peões e até os sinais de trânsito perderam a cor!

Os grandes feitos! Ainda há dias, no tabuleiro que passa por cima da Rotunda (junto do Braga Parque), acabou de ser alcatroado. Demorou dez dias – salvo erro – a alcatroar mais ou menos 500 metros. Trânsito que ficou caótico, embora se vissem entre seis ou dez trabalhadores à volta do piso. 

Como apenas se via que um ou dois homens trabalhavam, o meu amigo Manecas, a ironizar, afirmou: “um deles, é o Planeador da Obra; outro, foi o que estudou a obra; outro, é o director da obra; outro, é o Mestre da obra; outro é o fiscal da obra; outro, é o engenheiro da obra, outro, é o sindicalista dos trabalhadores da obra, e os outros dois são os que trabalham”. E o povo paga e sofre com o caótico trânsito que provocaram, respondi.

Os grandes feitos! Também há dias, nesta minha Roma Portuguesa, aconteceu um grande feito! Na Rotunda de Infias, em tempo de chuva, os camiões patinavam no paralelo e não conseguiam subir. Era o caos! Torciam o volante para a esquerda ou para a direita e, patinando sempre, lá iam subindo e os carros ligeiros esperavam e buzinavam.

Então, aconteceu o grande feito: alcatroaram meia Rotunda para os camiões subirem e a outra meia ficou como estava, em paralelo. É digno de se ver, é ridículo o que se vê.

Ninguém é perfeito. O barro tanto pode servir para coisas lindas como para coisas desagradáveis. O barro de que falo, é o barro/homem. Mas verdade, verdade, é que os homens de hoje, as mentalidades de hoje, os valores do homem de hoje, salvo as devidas excepções, não passam de pessoas desmotivadas, indiferentes aos ambientes e às necessidades que os cidadãos têm.

Culpa de quem? Dos pais que não dão, porque não têm? Dos professores que não preparam para que haja homens motivados e com valores? Dos políticos que desconhecem o modus vivendi do povo e seus anseios?

Deixemos Salazar em paz e que seja Deus a solucionar os seus defeitos de vivo. Mas que Portugal precisava de uma boa centena de salazares, lá isso precisava, para novamente termos outros grandes feitos.



 

(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990)



 

Artur Soares

Artur Soares

12 julho 2025