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A importância da Palavra de Deus para os ministérios

No passado Domingo, III Domingo da Palavra de Deus, o Papa Francisco instituiu pela primeira vez alguns leigos – homens e mulheres – no ministério do leitor e do catequista.

Um passo importante que deu cumprimento a um projecto iniciado em Janeiro de 2021 de abrir os ministérios laicais – leitor e acólito – a todos os leigos, independentemente do sexo. Estamos, neste caso, a referir-nos ao Motu Proprio Spiritus Domini que alterou o Motu Ministeria quaedam de Paulo VI, determinando que “Os leigos que tiverem a idade e as aptidões determinadas com decreto pela Conferência Episcopal, podem ser assumidos estavelmente, mediante o rito litúrgico estabelecido, nos ministérios de leitores e de acólitos; no entanto, tal concessão não lhes atribui o direito ao sustento ou à remuneração por parte da Igreja”. De modo semelhante, com o Motu Proprio Antiquum Ministerium, abriu a possibilidade de um novo ministério, o do catequista, que agora veio a concretizar-se.

Desta cerimónia há dois aspectos a realçar. Em primeiro lugar, a efectiva integração das mulheres nos ministérios laicais. No leitorado foram instituídos 2 homens e 6 mulheres e no do catequista 5 homens e 3 mulheres. Historicamente, os ministérios de leitor e acólito eram etapas preparatórias para o sacramento da ordem. Mais tarde, foram alargados a leigos – homens – mas que na prática eram concedidos apenas a seminaristas. Por conseguinte, é um passo em frente não só para as mulheres mas, em boa verdade, também para os homens. Em segundo lugar, é também evidente o carácter universal da Igreja presente nesta cerimónia. Os leigos instituídos representam o Povo de Deus disperso por todas as nações. Alguns provinham da Coreia do Sul, Paquistão, Gana, Itália, Peru ou ainda Brasil e Espanha. Esta opção pode ser lida na sequência, por exemplo, de anteriores decisões de Francisco de diversificar o Colégio de Cardeais, ou seja, uma Igreja menos europeia e mais universal.

Ao ler a homilia do Papa Francisco do passado Domingo, há uma ideia que me parece relevante. Trata-se dos objectivos / finalidades que delineou para o exercício destes novos ministérios. À partida, e legitimamente, poderíamos pensar que o Ministério do Leitor visa uma maior dignificação do acto litúrgico, garantida pela presença de cristãos preparados técnica e espiritualmente. É verdade, mas não creio ser esse o objectivo final. Francisco, na sua homilia, afirma a urgência de “colocar a Palavra de Deus no centro da vida pastoral e da vida da Igreja!”.

Ao desenhar este programa está a dizer à Igreja que é importante uma pastoral que seja, na sua totalidade, animada e inspirada pela Palavra de Deus. Não apenas a liturgia mas toda a vida da Igreja: profética, litúrgica e caritativa. E trazendo para o Domingo da Palavra o ministério do catequista define-se, ao mesmo tempo, a sua identidade. Um ministério que tem como horizonte uma pastoral de primeiro anúncio, de evangelização, alicerçada na Palavra de Deus. Ora, a existência de ministérios laicais é a base necessária para alavancar esta animação bíblica da pastoral.

Vivemos tempos muito interessantes. Ainda não é tudo claro sobre a reforma eclesial em que estamos envolvidos. Mas os fundamentos são sólidos e obrigam-nos a repensar profundamente a estrutura e a pastoral da Igreja: uma Igreja que valoriza os leigos, que é capaz de identificar prioridades e dar-lhes resposta por intermédio de ministérios e, por fim, que se centra no essencial... Jesus Cristo e a Palavra de Deus.


Autor: Pe. Tiago Freitas
DM

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25 janeiro 2022