Certamente não será, para o leitor, uma estreia quando ouve a frase “mas eles são todos iguais!”, esteja ela presente numa conversa de café, num jantar de amigos, ou numa mera discussão informal sobre política (e não só) e sobre “este triste estado em que nos encontramos”.
Trata-se, naturalmente, de uma lamúria inocente, mas que simultaneamente corrói a alma da democracia, pois provoca um aceitar de um destino sem que façamos nada por ele. De uma forma mais prática, provoca igualmente outros fenómenos mais conhecidos, como a abstenção. Por isso é natural que a tentemos violentamente rebater, quando ouvimos uma primeira vez este pensamento, tão nocivo como honesto. Numa segunda, é possível que a tentemos desconstruir de forma mais pragmática e racional. À terceira, seja pelo cansaço da conversa, ou pelo cansaço político, é possível que optemos pelo mero silêncio, ou por um simples encolher de ombros.
Como enfrentar esse chavão? De forma prática, suponho. Olhando para a realidade política portuguesa, podemos entender o que é coerência política e ideológica do chamado do establishment, PS e PSD, pois tratam-se dos partidos que estiveram – e estão – no poder, nos últimos quarenta anos.
Vejamos, então, casos recentes. Vejamos, inclusive, um exemplo mais recente possível. O Partido Socialista, nos oito anos que esteve no Governo, não só nunca aboliu as portagens das auto-estradas, como votou sempre contra todas as propostas de todos os partidos para essa abolição (Carlos Guimarães Pinto fez questão de as elencar no Parlamento, criando um belo efeito de repetição sonora para quem o ouvia). Em outubro de 2023, a então ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, tinha inclusive realçado que a “abolição das portagens estava cada vez mais longe”. Seria expectável que, algumas semanas depois dessa mudança de Governo, as ideias se mantivessem.
Não foi o caso. No dia 2 de maio, o PS propôs o fim das portagens em algumas das antigas Scut, ou onde não existem vias alternativas para uso em qualidade e segurança.
Voltemos ao café, e ao chavão que deu partida a este texto. Como rebater isto, face os casos práticos que se vão sucedendo? Como não perder – gradualmente – a capacidade argumentativa de modo a combater a inércia para que fique tudo como está? Como podemos alegar que não são todos iguais, quando os partidos esforçam-se para que pareça exatamente isso?
Suponho que, numa lógica absolutista, nunca poderemos argumentar que “são todos iguais” enquanto todos os partidos não estiverem no poder. Até lá, resta-nos a participação cívica e a crença nas ideias que partem de nós. Esperando que chegue, com alguma sorte, a quem nos representa.
Por isso – e liberalmente falando – aguardo honestamente que este novo balanço político – mesmo com os riscos que ele traz – nos permita enfrentar com bons olhos a real possibilidade de termos um novo partido no governo. Não só pelo futuro do país e das gerações que se seguem. Não só pela descrença política em que vivemos. Mas também pelas conversas de café, que estou farto de as perder.