Recentemente, Portugal conquistou um título mundial de futebol. Motivo suficiente para os arautos das vitórias prognosticarem que temos o futuro garantido e para os Velhos do Restelo anunciarem que daqui a uns anos ninguém saberá por onde andam estes conquistadores. A mim preocupam-me outras questões.
Jorge Valdano diz-nos que o talento futebolístico vive do engano, pois quanto melhor é o jogador, melhor engana. Mas o que é verdadeiro para os jogadores não se aplica aos restantes intervenientes no processo.
A FIFA, principal interessada na evolução da modalidade, promove mais jogos desnivelados com a falácia da inclusão, aumentando o número de seleções nas grandes competições.
Os presidentes dos principais clubes da nossa Liga ao invés de proporem medidas que elevem o nível competitivo, permitindo melhores prestações europeias e consequentes benefícios, continuam a discutir questões arbitrais onde, coincidentemente, são unânimes em verem só prejuízos próprios e benefícios alheios.
Dirigentes associativos, clonam anualmente quadros competitivos nos escalões de formação, que originam resultados indecorosos de 66-0 e… não coram de vergonha. Alguns treinadores destes escalões, cuja principal função deveria ser responder pela evolução de todos os jogadores - com especial relevância para os que possuam um potencial acima da média - valorizam os resultados e, por isso, cometem autênticos atentados à formação.
De entre os progenitores - fundamentais para que exista futebol de formação - há quem esqueça facilmente os princípios básicos de educação e de sã convivência, originando o abandono precoce da modalidade por parte de crianças e jovens que não se reveem naqueles comportamentos.
Os “donos” do (nosso) jogo, as televisões, continuam a esquecer os adeptos - razão primeira da existência da modalidade - marcando jogos para horários impróprios, promovendo desta forma bancadas vazias de gente e… de emoção.
Precisamos urgentemente que o futebol seja cada vez mais jogo, valorizando a sua dimensão cultural e educativa e cada vez menos outras coisas que, na realidade, são secundárias.
Como adepto, o que procuro num jogo encontro-o no “football” inglês: intensidade, qualidade, luta leal entre todos os intervenientes e…”prognósticos”, só mesmo no fim. Pelo que, quando às vezes me questionam sobre lances de jogos do nosso futebol, sou sincero ao dizer: não vi. Estive a ver football e, tendo ficado saciado não me apeteceu estragar a refeição com uma (má) sobremesa nacional – e, quem me conhece, sabe que dificilmente resisto a uma sobremesa.
E assim seguimos: entre títulos mundiais que nos fazem sonhar alto e líderes que continuam a acreditar que o problema está sempre nos outros e que se recusam, obstinadamente, a questionar-se.
Os nossos jovens, através das suas conquistas, provam que há potencial. O que falta – e muito – é fazermos por justificar estes sucessos nos restantes quadrantes da modalidade. Resumindo, e sem desmerecer a imensa qualidade do grupo que esteve no Catar, quase apetece dizer: fomos campeões do mundo, apesar de…