Se queremos um desporto melhor em Portugal, temos de começar onde tudo verdadeiramente começa, na Escola. É nas primeiras idades que se desenvolve a literacia motora, se formam hábitos de movimento e se constrói a relação que cada criança terá com a atividade física ao longo da vida. No entanto, apesar de termos professores qualificados e instalações desportivas escolares há mais de três décadas, nomeadamente no ensino básico e secundário, os resultados continuam longe do desejável. A taxa de prática desportiva da população portuguesa mantém-se estagnada, e isso obriga-nos a olhar de frente para a realidade, por outras palavras, a Educação Física, tal como está organizada, não está a cumprir plenamente a sua missão.
Podemos começar pelo nome da disciplina, “Educação Física” carrega uma herança conceptual distante da prática atual e pouco alinhada com a forma como a sociedade vê o desporto. Em muitos países, a disciplina escolar chama-se simplesmente Desporto, com impacto imediato na perceção social e no respeito pela sua importância educativa. Talvez seja tempo de evoluir também nesse sentido, abandonando visões excessivamente idealistas e aproximando a disciplina da sua verdadeira natureza e função. Outra dificuldade estrutural é a dispersão de conteúdos, temos programas demasiado extensos, abordados de forma superficial e sem progressão coerente. Se queremos que as crianças e jovens desenvolvam competências motoras reais, precisamos de programas consistentes, com menos conteúdos, mas trabalhados com maior profundidade, consolidando padrões motores, capacidades físicas e hábitos regulares de atividade. A avaliação deve seguir a mesma lógica, deve ser objetiva, clara e baseada em desempenhos motores, tal como acontece noutras disciplinas. Avaliar esforço, execução, marcas, tempos e competências técnicas é fundamental para que a disciplina seja valorizada e reconhecida.
Durante demasiado tempo, colocámos na Educação Física responsabilidades que não são exclusivamente suas, tais como combater o sedentarismo, resolver a obesidade infantil, promover saúde pública, educar valores, disciplinar comportamentos. Tudo isto é importante, mas não pode ser missão exclusiva da Educação Física. É missão de toda a escola. A disciplina deve focar-se no que lhe compete, nomeadamente criar uma população com literacia motora, hábitos desportivos e competências que permitam praticar desporto ao longo da vida. Os resultados mostram que não basta continuar a fazer mais do mesmo. Precisamos de programas mais focados, mais exigentes e mais consequentes. Precisamos de fazer diferente para que os resultados sejam, finalmente, diferentes. Rever a Educação Física, no nome, nos programas e na avaliação, é um passo essencial para construir um país mais ativo, mais saudável e com maior participação desportiva, porque o futuro começa, sempre, na escola.Fr