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Há grandes e pequenos ladrões

Sua excelência o Juiz/Desembargador, Carlos Alexandre, foi há dias nomeado para “liderar o combate à corrupção no Serviço Nacional de Saúde”. Nomeação tardia, como se sabe.

E em 2014, o General Ramalho Eanes, convictamente afirmou: “O nosso problema não é a desobediência civil, é a obediência civil; o nosso problema é que as pessoas são obedientes, enquanto as cadeias se enchem de pequeninos ladrões e os grandes ladrões governam o país. É esse o nosso problema”!

Cinquenta anos após a democracia, nenhum Governo combateu a corrupção. Tem sido assim também, com os fogos em Portugal: o país sempre a arder e sempre a ser saqueado. Mas, “vale mais tarde que nunca”! 

Há quem pense que aquele que rouba, tem coragem e é destemido. Tudo se rouba. Até a Natureza é roubada, a par do Mar. Só que o mar e a natureza, roubam também.

Neste actual reino do século XXI, deixamos de ouvir as palavras ladrões e roubar. (“É violência verbal, dizem”). Diz-se rapaces ou ainda mais modernamente falando, diz-se corruptos. 

Os ladrões de hoje não roubam escravos, como faziam os piratas (e não só), mas destemidamente, fazem saques aos cofres da Nação, aos cofres Bancários, aos das Empresas e, outros ladrões, roubam filhas aos pais, roubam as esposas aos maridos e ainda outros roubam aos amantes as companheiras dos companheiros, como agora se diz. 

Rouba-se, pois até os próprios mortos são roubados e desmembrados nos cemitérios; os pensamentos de quem escreve roubam-se e as pinturas dos famosos pintores têm sido roubadas ou copiadas.

Todo o mundo parece sentir interesse de roubar, embora todo o mundo não concretize o roubo. E é público, que muitos dos que roubam, normalmente, têm bens. Mas sentem necessidade de roubar, porque “o pão do vizinho sempre foi mais saboroso que o de casa”.

Os ladrões com violência no roubo, provam a força e a inveja que sentem pelos roubados e, os roubos com embuste, provam o talento de mentir, de jogar, que se resume ao roubo velhaco. Os ladrões/velhacos, ao sentirem-se mais “confortáveis” com o roubo, sentem ainda uma certa superioridade e - embora erradamente - enquanto não são descobertos “batem-se” a sorrisos e a prestação de vassalagens.

Actualmente, do ladrão de alto gabarito, diz-se: “é/foi rapace ou corrupto”. Talvez até, este género de ladrões façam o Bem, sejam delicados e ofertantes de esmolas às instituições. Não é por acaso que certos Zés-do-Telhado – mas em proveito próprio - passaram a comerciantes; carteiristas, a prestadores de serviços e bandoleiros dos grandes centros passaram a empresários dignos de elogios de jornais e televisões.

Sabe-se que são muito poucos os ladrões que roubam por necessidades. Estes, muitas vezes fazem-no para passar o tempo ou por se sentirem engraçados. Mas é destes ladrões que se julgam, se prendem e deles o povo foge e protege-se. Agora roubar larguete, velhacamente…, pelo menos no reino deste nosso século, é glória suprema, e as leis para estes ladrões a Justiça aplica-as como a manteiga se aplica em pães quentes: derretem-se, olvidam-se.

Os ladrões destemidos e velhacos que baste, são respeitados e os advogados encarregam-se de os inocentar, e a falta de cultura do povo, de os esquecer. 

À mãe que rouba um pacote de spaghetti e dois biscoitos para os filhos, chama-se a polícia, como eu já assisti. Os perigosos ladrões, normalmente estão ligados à partidocracia política, são temidos, e tendo azar, apenas serão julgados dez ou mais anos depois, depois de tudo o que roubaram já nada terem à vista. 

No reino deste século XXI, entre nós, quem desconhece os ladrões devidamente organizados - que pisam e afundam os outros, que roubam diariamente quem trabalha/trabalhou – e sempre justificados? E vivendo alegremente, fazem férias fora do país, riem dos Tribunais, passeiam e correm pelas bermas dos jardins com expressões irónicas, como que chamando de parvos a quem olha por vê-los passar!

Há grandes e pequenos ladrões, como afirmou o ex-presidente, Ramalho Eanes!

Todavia, o Homem de Nazaré ou chamado Nazareno, teve como companheiros na cruz, dois ladrões: Um era grande e mau ladrão, o outro era ladrãozito de espigas. Este “safou-se” – porque reconheceu-se ladrãozito – e o Nazareno garantiu-lhe boa estadia nos céus. O outro, preferiu saborear a arrogância, a força e a violência da ladroagem. Logo, não se deve ter safado. Mas é verdade que o Nazareno deixou dito: “Não impeças que quem te rouba a capa fique também com a túnica”.



 

(P.S.) Felicidades, Sr. Juiz/Desembargador, Carlos Alexandre, pela nomeação da sua liderança contra a corrupção. Eu acredito em Vª Exª. 



 

(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990).

Artur Soares

Artur Soares

5 dezembro 2025