Agora que profissionalmente alarguei os meus horizontes, trabalhando com organizações de sectores tão distintos como a indústria, a construção civil onde já tinha estado, mas também a saúde, o imobiliário, a restauração, a educação e tantos outros com que travei conhecimento recentemente na WebSummit 2025 em Lisboa, tornou-se evidente algo simples: somos todos diferentes, mas muito mais iguais do que pensamos.
Dentro do nosso círculo profissional, sentimo-nos confortáveis a afirmar que temos especificidades, métodos próprios, competências únicas. Mas a verdade é que não existe um verdadeiro benchmark entre sectores tão distintos que permita comparar esforços ou resultados. São campeonatos diferentes, com regras próprias.
E, ainda assim, é precisamente nas diferenças que encontramos algumas das maiores riquezas: o contraste que ilumina, o contraditório que nos desafia, a escala que relativiza tudo o que achávamos absoluto.
O processo de aprendizagem acelera, a experiência alarga-se e inicia-se um ciclo virtuoso de criação e inovação. Velhas soluções de um sector ganham nova vida noutro onde nunca tinham sido imaginadas. Problemas que surgem hoje numa empresa aparecerão amanhã noutra. E, quando diferentes perspetivas se conjugam sobre o mesmo desafio, formam-se imagens completas que nenhum de nós conseguiria ver sozinho.
Assim, o mercado torna-se mais resiliente, mais criativo e mais rápido a crescer.
Deste entendimento emerge também outra conclusão relevante: empresas pequenas e ágeis podem, e devem, colaborar na inovação com empresas maiores, que por regulamentação, hierarquia, orçamentos ou estrutura interna não conseguem avançar com a mesma velocidade.
Esta visão colaborativa transforma empresas cuja proposta de valor é precisamente a inovação e a transformação em autênticas “abelhas polinizadoras”: levam o pólen das ideias, das práticas e das soluções entre organizações, como se fossem flores de ecossistemas diferentes.
Percebemos então que, tal como as pessoas, todas as empresas têm o seu lugar e o seu papel na economia. A dimensão deixa de ser o foco; o propósito passa a ser a bússola. O que realmente importa é a diferença que cada organização é capaz de criar no mercado.
O papel? Cliente, fornecedor, colaborador, parceiro, prestador, dilui-se.
A tecnologia, sem barreiras físicas ou lógicas, omnipresente e multipersona, abre portas a formas quase ilimitadas de entregar valor. Cliente és! Fornecedor serás!
E talvez por isso, num mundo onde as diferenças são tantas vezes usadas de forma negativa, devamos também lembrar que são essas mesmas diferenças que alimentam o fascínio pelo desconhecido: pelas culturas diferentes, pelas soluções inesperadas, pelas dificuldades dos outros e pelos seus troféus conquistados sobre montanhas de esforço silencioso.
Celebremos este reconhecimento mútuo, porque ao fazê-lo estamos também a reconhecer o melhor de nós próprios.
Esta visão colaborativa de respeito, partilha e polinização entre sectores, ajuda-nos a compreender melhor o papel da IA e a velocidade alucinante da sua evolução. Com IA e inovação, deixamos que a água das conquistas, das lições e das oportunidades flua entre organizações e sectores, dissolvendo diferenças e potenciando aquilo que realmente nos une.
Afinal, somos todos iguais.
Com os mesmos problemas.
… talvez apenas com logos diferentes!