A velocidade está a torpedear o pensamento. Nem a pensar estamos atentos. Esquecemos que, como avisa Byung-Chul Han, «só o pensamento atento tem um olhar».
Sem olhar, o pensamento limita-se ao cálculo, não produzindo nada de novo.
A espiritualidade fomenta a atenção sendo, por isso, criativa. «Toda a capacidade criativa do ser humano tem origem na atenção profunda».
Desatentos, formamos uma sociedade desprovida de criatividade. E o certo é que «o nosso presente é pobre em génio criativo».
Efetivamente, «só a atenção pode criar algo totalmente novo». Todo o espírito criativo «é um génio da atenção».
A atenção é «a alavanca da alma» e «a alavanca da sociedade é o belo, a transcendência».
Neste sentido, são as celebrações religiosas — desde que atentamente vividas — «que conferem beleza e mistério à vida».
A vida «sem mistério, sem sobrenatural, deixa de ser vida». E a beleza suprema, «que permite que a vida seja mais do que mera sobrevivência, terá de ser religiosa».
Não olvidemos que é «devido à falta de atenção que o mundo de hoje é tão pobre em pensadores».
Praticamente não se cria pensamento; repetem-se opiniões e reproduzem-se «sound bites».
É que «o pensamento requer uma atenção profunda».
E todos nós somos órfãos de atenção, atulhados como estamos em «paletes» de informações e perceções que se sobrepõem e atropelam.
Sem atenção — e também sem espera e sem paciência —, «não é possível pensamento». O pensamento atua quando estamos quietos, atentos, «em passividade ativa».
Não duvidemos de que «quem é apenas ativo é incapaz de pensar». Como, no entanto, somos hiperativos, não espanta que «não tenhamos tempo nem paciência para pensar».
Porque implica esperar, o pensamento pressupõe — como requisito irrenunciável — a humildade e, por extensão, a gratidão.
Retenha-se o conselho de Heidegger: «Primeiro aprendam a agradecer e então poderão pensar».
Daí que pensar seja fundamentalmente agradecer. Basta olhar para os génios.
Todos eles, como reparou Byung-Chul Han, «devem a sua inspiração à humildade, à espera paciente».
O exemplo de Sócrates é iluminador. Um dia ficou imóvel, desde a aurora, à espera de uma ideia. Dado que esta não surgia, imóvel continuou no mesmo local.
Era já meio-dia quando muitos começaram a notar o cenário. Até que, ao fim da tarde, decidiram dormir ao relento para proteger Sócrates que, pela noite dentro, continuava a meditar a pé firme. À espera de uma ideia!