Quem chegasse a Portugal e não tivesse conhecimento das coisas mais relevantes que por cá aconteceram nos últimos dias, diria que as coisas do futebol fazem a única ocupação, seja no jogo feito, seja nas questões que lhe estão adstritas. Horas e dias foram dedicados a um clube e aos meandros das eleições realizadas e às que acontecerão em breve… O resto – a política, a economia, a sociedade, a cultura ou mesmo a religião – foi obnubilado de forma ostensiva e quase aberrante.
1. Os que são adeptos ou sócios de outros clubes sofreram com tanta propaganda do SLB. Uma singela declaração de interesses me faria simpatizar com as notícias, mas também me coloco do outro lado daqueles que abjuram os promovidos: foi um exagero e quase abuso da paciência alheia… Em todos os canais e em todo momento. As tricas e as jogadas confundiram-se nas análises. Os projetos e as insinuações andaram de mão dada nas questiúnculas. Muitos egos em confronto e quantas mazelas e podres dados a conhecer dos concorrentes. Algo que se ouviu falar pouco: quanto custou todo este circo de mau desempenho de todos… De facto, seria útil e necessário perceber os investimentos envolvidos para que se possa compreender melhor porque correm tantos para o posto…
2. Em momentos como este torna-se necessário colocar alguma razoabilidade nas questões básicas e nos temas essenciais. Apesar de as agremiações desportivas serem importantes para a correta vida social, há sinais preocupantes para a saúde de todos que estes assuntos sejam colocados no devido lugar e não como a razão última do nosso ‘eu coletivo’. Este episódio das eleições no SLB vem ainda na sequência das refregas eleitorais das autárquicas e mesmo das legislativas, deixando antever algo de muito complicado para as presidenciais em janeiro. As disputas entre as pessoas têm-nas tornado mais do que adversários em inimigos, mesmo que alguns se digam colocados dentro da mesma cor (partidária ou clubística) ou até na mesma área ideológica. A luta pelo poder – infelizmente é isso que se nota e disso nos dão conta de forma agressiva – faz cair as máscaras até de menos boa educação…
3. Desgraçadamente temos visto mais emoção do que razão em tantos destes casos vividos recentemente. A força da razão nem sempre se sobrepõe à razão da força. Alguma argumentaria tem descido tão baixo que corremos o risco de não perceber se as pessoas desejam o melhor para as ideias que apresentam ou se se escondem por detrás do barulho das acusações, se tentam enganar com as suspeitas que lançam ou se sabem que nada se esquece quando se perde e tão pouco quando se ganha. Seria conveniente não deixar a adormecer a memória, pois o que se diz fica registado e pode servir de matéria em ataque noutras ocasiões…
4. Em tempos considerava-se que, para conhecermos uma determinada pessoa, o poderíamos fazer em certos momentos em que a pessoa estaria mais descontraída e, por isso, pouco suscetível de enganar ou de disfarçar: à mesa, no jogo, num passeio…depois incluiu-se o modo de reagir na estrada… e agora poderemos sugerir, nas disputas (contendas, discussões ou mesmo zangas) com outros adversários. Com efeito, muitas vezes o verniz apresentado estala quando se tem de tomar posição e se percebe que está em modo desfavorável: aí emergem os ataques, as acusações ou mesmo as mentiras sobre os outros, em jeito de quase inimizade…
5. Muito mal vai um país ou mesmo o mundo em geral se as coisas de reduzem a questões do futebol, sobretudo se este ainda vier a agravar o resto. Verdadeiramente tanto futebol já enjoa e demais!