Dizem que rir é o melhor remédio. E, ao contrário de muitos medicamentos, não tem contraindicações conhecidas nem exige receita médica.
No entanto, em tempos de teleconsultas e exames partilhados por WhatsApp, será o humor realmente um remédio santo ou apenas um placebo de boa disposição?
A medicina moderna, essa senhora de semblante sério e bata branca, já começa a dar algum crédito às gargalhadas. Estudos internacionais indicam que o riso ativa o sistema imunitário, reduz o stress, melhora a circulação e até alivia a dor.
Em hospitais, especialmente nas alas pediátricas, os “Doutores Palhaços” receitam alegria. Não substituem os antibióticos, mas ajudam a torná-los mais eficazes. O corpo reage como se dissesse “obrigado” por o deixarem respirar entre um susto e outro.
O humor tem ainda um papel social poderoso: aproxima, desarma tensões, e lembra-nos que a fragilidade é o ponto comum de todos os seres humanos, inclusive dos médicos. Um profissional de saúde com sentido de humor não é menos competente; é apenas mais humano. E, convenhamos, uma boa dose de empatia ajuda muito no processo de cura.
Claro que há limites. O humor sem sensibilidade pode ferir, ridicularizar ou banalizar a dor alheia. Entre rir com alguém e rir de alguém, há uma linha fina, tão fina quanto a que separa o sarcasmo da inteligência.
Por isso, talvez seja sensato relembrar que o humor, tal como os medicamentos, requer posologia adequada. Uma piada fora de tempo pode, em casos limite, provocar mais efeitos secundários do que uma vacina mal conservada.
No quotidiano das organizações de saúde, onde a pressão, o burnout e as urgências formam a trindade moderna do cansaço, o humor pode ser um antídoto vital.
Um chefe capaz de rir de si próprio inspira confiança e reduz a ansiedade das equipas. Um profissional de saúde que faz sorrir um doente internado transforma minutos de espera em momentos de humanidade. E quando o riso é partilhado, o ambiente muda. Fica mais leve, mais oxigenado, quase terapêutico.
Resta-nos saber se rimos o suficiente. Portugal é um país de poetas e de fado, mas também de um humor fino, às vezes melancólico, com ironia q.b.
Talvez falte ensinar desde cedo que o riso é ferramenta de saúde pública: não substitui o profissional de saúde, mas faz parte do tratamento.
Sim, rir é um ato sério. E quanto mais séria é a vida, mais urgente se torna o humor. Pode não ser remédio santo, mas quem o pratica com alma e respeito sabe que, no mínimo, é um milagre diário de sobrevivência.