Segundo dados fornecidos pela Comunicação Social, neste ano já nasceram cerca de 60 crianças sem a necessária assistência médica, mormente especializada; e estes nascimentos aconteceram em ambulâncias a caminho do hospital e sem o desejado e devido apoio dos serviços médicos de obstetrícia.
E esta triste realidade acontece devido ao fenómeno absurdo e inexplicável de fecho da urgência de obstetrícia e de genecologia em muitos hospitais, sobretudo aos fins-de-semana; e, assim, as parturientes confrontam-se com a inesperada e impensável ação obstétrica dos bombeiros num esforçado auxílio amador ao ato natural e glorioso de nascer.
Nos meus tempos, já longínquos e saudosos de criança, mormente nas aldeias, os partos aconteciam, na generalidade, com a ajuda, muitas vezes, de uma mulher mais velha com reconhecida experiência e expediente de já ter sido muitas vezes mãe e, como tal, dona de muita prática na matéria; e havia mesmo mulheres em idade de ser mães que encaravam este ato como a coisa mais natural do mundo e se mais não fosse, pela vivência que tinham em assistir e apoiar, frequentemente, o nascimento de bezerros, anhos e cabritos.
Claro que eram tempos em que com a falta de assistência médica e escassez de medicação nem sempre o sucesso era garantido; e, sobretudo, quando a prole chegava aos 10,12 ou mais filhos em muitos agregados familiares e onde as carências eram muitas e de variada ordem.
Pois bem, sendo nós um país com uma população das mais velhas do mundo e a caminho de um inverno demográfico (défice de nascimentos e excesso de pessoas muito idosas) e onde cerca de um terço das mulheres em idade fértil optou já por sair do país e mais de trinta por cento dos jovens nascidos em Portugal vive lá fora, corremos sérios riscos de a população atual, segundo dados estatísticos, baixar dos 10 milhões e picos para 6 milhões, aproximadamente, e, então, com a situação que está a acontecer nas urgências de obstetrícia no SNS (Serviço Nacional de Saúde), esta evidência ainda mais se agudiza.
Não sei porque o Governo tanto tarda em tomar as medidas imprescindíveis para repor a normalidade nos hospitais públicos, onde acontece uma preocupante vaga de fecho de urgências e demissão de médicos obstetras; e isto só faz lançar o pánico nas futuras parturientes e, concomitantemente, as levando à desistência e desmotivação para abraçarem a maternidade.
Sabemos que nos hospitais privados este problema não existe, seja porque os médicos obstetras dos hospitais públicos saem para os hospitais privados, seja porque alguns passam à situação de tarefeiros, onde são melhor remunerados e sem estar sujeitos aos problemas de ordem profissional existentes; mas, o Governo não pode virar costas ao assunto, como parece estar a acontecer; e, assim, lança a angústia e o receio constantes nas mulheres jovens que desejam e defendem a maternidade segura e apoiada pelas próprias instituições a ela vinculada e, inclusive, na população em geral.
A meu ver, não seria de pôr de lado uma medida que poderia dar uma ajuda rápida e séria na resolução deste grave problema e, já agora, em muitos outros na medicina hospitalar do SNS: a obrigação de todos os médicos, nos primeiros dois a três anos de trabalho, após a sua formação, serem obrigados a trabalharem, obviamente remunerados, num hospital público; e esta seria uma forma de servir a comunidade e, sobretudo, de compensar de alguma forma os gastos que o país despendeu na sua longa formação académica.
Sei, todavia, que este é um grave problema de saúde hospitalar que se pode estender a outras especialidades médicas, como sejam as de cirurgias, de exames de imagiologia e muitos outros; e se tal vier a acontecer é o SNS que corre sérios riscos de extinção ou, quando muito, acabar por sofrer uma reviravolta na sua génese e forma de funcionamento que não se deseja.
Então, até de hoje a oito.