Uma terra que se enche para ver procissões, mas cujas igrejas estão vazias na maioria dos dias será cristã?
O que define a identidade cristã é uma vivência contínua, não são ocorrências ocasionais. Quando deixaremos de ser cristãos ocasionais? Quando voltaremos a ser cristãos assíduos?
Nos começos, os cristãos destacavam-se pela assiduidade «ao ensino dos apóstolos, à fração do Pão e à oração» (At 2, 42).
Por conseguinte, eram diligentes na escuta da Palavra e na partilha do Pão. Ou seja, participavam – frequente e ativamente – na Eucaristia.
Esta participação era uma decorrência do Batismo recebido (cf. At 2, 41). O Batismo não era um evento social; era a inauguração de uma vida completamente envolvida com Jesus Cristo.
A assiduidade à Eucaristia era ditada pela necessidade de estar com Cristo, nela presente.
Acontece que, desde há tempos, a participação na Eucaristia é, muitas vezes, determinada por fatores adjacentes. Quem vai à Eucaristia por causa de Cristo?
Tornou-se habitual «ir» à Eucaristia por causa de um casamento, por causa de um funeral, por causa de um sétimo (ou trigésimo) dia de falecimento, por causa de uma festa da primeira comunhão, de uma profissão de fé, de um crisma. Ou por causa de um acontecimento que inclua a celebração eucarística.
Na verdade, parece ser preciso acoplar um determinativo à Eucaristia para que se verifique alguma mobilização.
É o caso da «Missa dos Finalistas», da «Missa das Confrarias», da «Missa das Vindimas», da «Missa Motard», entre outras.
Ressalve-se que é meritório que todos estes irmãos solicitem a celebração da Eucaristia nos momentos mais significativos da sua atividade. O que se estranha é que a participação se limite crescentemente a esses momentos.
Será curial instrumentalizar a Eucaristia? Quem acorre à Eucaristia pela Eucaristia, isto é, por causa de Cristo?
Acresce que esta «socialização» da Eucaristia leva a que a sua conceção e o comportamento dos seus participantes estejam longe da centralidade do mistério.
O ruído nos templos é ensurdecedor, a atenção é diminuta, a escolha de cânticos não tem em conta os critérios litúrgicos, etc..
E como se não bastasse, está a tornar-se recorrente uma pletora de textos que nada têm que ver com o espírito – e a letra – da celebração.
Tais textos, em vez de serem concluídos com o expectável «ámen», são sufragados com trepidantes salvas de palmas.
E, não obstante, os habitantes das nossas terras ainda se dizem cristãos. Esquecem que ser cristão não consiste em adequar Cristo a cada um, mas em adequar cada um a Cristo (cf. Gál 2, 20).
Recorde-se que não se é cristão como se quer, mas como Cristo quer.
É, portanto, urgente repovoar não só o interior dos territórios, mas também – e cada vez mais – preencher o interior das pessoas.
Por enquanto, as nossas terras são gigantescos campos de missão. Vamos a ela?