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A responsabilidade dos vitoriosos e dos outros

O povo decidiu mais uma vez, confirmando mandatos, reprovando outros e escolhendo novos protagonistas. Uma noite eleitoral longa, tão renhidas que foram algumas disputas. Que se síntese se pode fazer? Perdas significativas do Partido Socialista (PS) para a Coligação que juntou o Partido Social Democrata (PSD) e o Centro Democrata Social-Partido Popular (CDS-PP) em grandes Câmaras. Um novo partido na gestão de Autarquias, o Chega, ainda que tenha ficado muito abaixo das melhores expectativas. O Partido de José Luís Carneiro perde a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), mas ganha capitais de distrito. Agradecimentos nas declarações de vitória e assumpção de responsabilidades nos discursos dos derrotados. Houve de tudo um pouco e pelo país todo. Ainda que a maioria dos líderes partidários o tenham afirmado, não houve vencedores. Em todos se verificou uma vitória aqui, uma derrota acolá. Não houve uma vitória completa de nenhum. Na verdade, quem venceu foi o povo que se expressou em cada Autarquia. O Partido Socialista voltou a ser, como afirmou o seu secretário-geral, “o grande partido da alternativa política ao Governo”.

 

2. Em Braga a disputa deixou de ser entre Juntos por Braga (PSD+CDS-PP+PPM) e PS e passou a contar agora também com o Movimento Amar e Servir Braga, com distribuição de três mandatos por cada uma das candidaturas, tendo o Iniciativa Liberal e o Chega conquistado um mandato cada. Mantém-se a cor que geriu a Câmara Municipal nos últimos três mandatos, por algumas poucas centenas de votos, agora com uma configuração de vereação bem diferente. Não foi desta vez que o povo decidiu pela alternância, mas aproximou-se dessa possibilidade ao retirar a maioria absoluta à Coligação e obrigando-a a repartir responsabilidades com outros protagonistas. O futuro começa agora com novos protagonistas.


 

Vai seguir-se o trabalho do dia-a-dia, com a colocação em prática das propostas eleitorais. Os vencedores serão os primeiros responsáveis pelas iniciativas, mas os derrotados também têm que assumir as suas responsabilidades. Quem concorreu e foi eleito deve ficar, ainda que não tenha ganho. Deve respeitar o voto popular e ser sério perante os eleitores. Os que o não fizerem deixarão a convicção de que estiveram na disputa, não como servidores, mas como interesseiros, por simples oportunismo, para não dizer outra coisa.


 

Se a intenção dos candidatos era mesmo servir, que sejam agora consequentes. Ganhar não deve ser o único objectivo nem o mais importante. Por outro lado, o respeito pelas oposições tem que ser efectivo. Quem não seguir este caminho não estará a respeitar os eleitores. Receber a “vitória com humildade”, como fez o líder da Coligação Juntos por Braga, pode ser um primeiro passo, mas o que importa verdadeiramente é, sobretudo, ser consequente. As palavras podem dizer muito, mas a prática dirá mais e melhor. As responsabilidades de cada um dos eleitos deve ser exercida em conformidade com o voto popular e só assim se poderá aferir da democraticidade no processo. Naturalmente que se deve esperar “uma oposição construtiva”, mas também se espera, obviamente, que quem for gerir saiba construir um futuro para o concelho com a oposição. Já exigir que esta “seja construtiva e, sobretudo, que nos deixe trabalhar”, roçando a arrogância, instala a dúvida sobre as reais intenções do próximo presidente da Câmara Municipal de Braga, se percebeu devidamente os resultados, sendo certo que não partilhar a realização do trabalho reclamado pelos eleitores é exorbitar da representatividade que se não tem. A responsabilidade dos vitoriosos não é menos importante do que a responsabilidade dos vencidos. Nem uns nem outros se podem pôr de fora. Nem os primeiros podem pôr fora os segundos, usando de sobranceria. E quando se não é maioritário, a responsabilidade dos vencedores é ainda maior.

Luís Martins

Luís Martins

14 outubro 2025