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Por Entre Linhas e Ideias

Esta semana dedico a minha reflexão à democracia e ao perigo crescente do populismo, tema que atravessa o nosso tempo e exige atenção. Estamos perto das eleições autárquicas e este é um momento importante para pensar na qualidade da nossa democracia. Muitos olham para o processo eleitoral com desconfiança, como se fosse apenas um ritual sem consequência real, outros sentem que votar pouco muda e que os políticos vivem afastados das pessoas comuns, e é precisamente nesse terreno de desencanto que o populismo cresce, prometendo soluções rápidas para problemas complexos e crescendo à sombra da impaciência e da indignação.

Do meu conhecimento filosófico resulta a convicção de que a filosofia política nos ajuda a compreender estas tensões e a reconhecer que a democracia é sempre uma promessa e também um risco. Foi o filósofo político francês do século XIX, Alexis de Tocqueville, quem escreveu em A Democracia na América: “A saúde de uma democracia depende da qualidade das pessoas que ela forma”. A reflexão continua pertinente e atual sempre que a voz popular é capturada por discursos que reduzem e deturpam o que está em jogo. E um dos maiores pensadores da filosofia política e social, Habermas, recordou que “a democracia só se sustenta através da força do melhor argumento”, lembrando que apenas a honestidade intelectual e o rigor no debate podem impedir que a política acabe por degenerar em retórica sem consistência.

Nas palestras e colóquios que realizo nas escolas do nosso país, deparo-me frequentemente com essa descrença, entre os jovens, que mina a confiança no regime democrático. Perguntam-me se a democracia ainda serve para alguma coisa, se votar faz diferença, se a política não é apenas um jogo de interesses, e é nesse momento que procuro mostrar que, apesar das falhas, a democracia continua a ser o espaço onde se cultiva o espírito crítico e onde cada voz encontra lugar para se manifestar. Mesmo imperfeita, é ela que garante a liberdade de questionar, de discordar e de propor alternativas. Quando esse espaço desaparece, ficamos entregues à vontade de poucos.

É por isso que, quando olho para os jovens, continuo a acreditar que há esperança. Vejo que querem ser ouvidos, que desejam participar, que procuram justiça e futuro, e nas minhas atividades descubro que a democracia renasce sempre que alguém se atreve a questionar e a dialogar. A democracia não é apenas um regime político, mas um exercício quotidiano de autenticidade ética, em que cada palavra deve nascer do respeito pela verdade e pela responsabilidade partilhada, pois só nesse gesto de integridade cívica reside a sua maior força.

Neste contexto, o futuro da política decide-se entre dois caminhos, e a escolha que fizermos marcará o destino da democracia. De um lado está a pressa populista, que oferece ilusões fáceis e respostas imediatas, mas acaba por corroer a confiança e abrir terreno a líderes autoritários. Do outro lado encontra-se a exigência democrática, sustentada na humildade intelectual, que implica pensar em conjunto, dialogar com a diferença e construir soluções duradouras com esforço comum. À porta de novas eleições é importante recordar que a democracia não é perfeita, mas é insubstituível, pois continua a ser o lugar onde pensamos e agimos como comunidade. Só a participação ativa e o compromisso coletivo podem torná-la realmente plena.

Recordo que, para os Atenienses, a Ágora era o espaço onde o pensamento se podia elevar para lá do imediato e das aparências. Que essa seja também a nossa tarefa de cidadãos: fazer da democracia um espaço vivo de razão, de diálogo e de escuta. E é com esse espírito que deixo aos leitores o convite para se deterem numa pergunta de aparência simples, mas de reflexão profunda:

Cederemos à tentação das respostas fáceis ou assumiremos o compromisso exigente da cidadania democrática?

Eugénio Oliveira

Eugénio Oliveira

24 setembro 2025