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Uma nova energia para Braga

Como escrevi na semana passada, o tempo rouba capacidade e discernimento aos dirigentes quando estes permanecem no poder para além de um certo limite. A lei actual, limitadora de abusos, não deixa de ser benévola para quem consegue manter-se no poder. Três mandatos de quatro anos é mesmo muito tempo. Na verdade, é frequente que nos últimos anos de uma governação longa os governantes se desleixem, percam clarividência e sentido de futuro. Por isso, a mudança é, quase sempre, benéfica, um verdadeiro tónico: refresca e revigora a administração da coisa pública.


 

O concelho de Braga precisa de quem pense nos problemas e encontre soluções adequadas. Digo adequadas porque, inúmeras vezes, se procura uma solução para, simplesmente, fazer diferente, para ser original, contudo, nem sempre fazendo bem. Um bom exemplo para evidenciar erros de protagonistas mais preocupados em se apresentarem à frente - serem os primeiros com a solução para um problema -, do que proporem uma solução reflectida, é o problema sentido na capital do Minho há demasiado tempo que tem a ver com a mobilidade.


 

A coligação Juntos por Braga, protagonizada para as Autárquicas por João Rodrigues, propõe a gratuitidade dos transportes públicos no concelho, como se isso fosse a melhor solução para o problema. Ao contrário, como diz, e bem, a Iniciativa Liberal, pela boca do seu candidato à presidência do Executivo da Edilidade, Rui Rocha, a questão “não é um problema de preço”, ainda que o possa ser para uma parte dos munícipes que os utilizam; o problema fundamental é que “os transportes não são adequados às necessidades das pessoas”; faltam outras soluções para fazer com que as pessoas deixem o carro na garagem de casa e se decidam a estender o braço para que o autocarro pare para as levar, em tempo útil, até perto do emprego ou a outros locais onde possam ter compromissos.


 

Alargar “de forma indiscriminada” a gratuitidade nos transportes urbanos é retirar, efectivamente, “capacidade de financiamento à evolução futura” da empresa de transportes, como diz o ex-Presidente do Iniciativa Liberal, e não vai retirar o trânsito do nó de Infias, nem se vai traduzir numa diminuição de circulação automóvel na generalidade das vias rodoviárias do concelho. De facto, os problemas relacionados com a mobilidade não se esgotam na cidade de Braga, mas são comuns em toda a geografia do concelho. Desincentivar o uso de viatura particular a quem mora fora da cidade e que trabalha nesta, só com uma solução muito mais abrangente e reflectida do que a simples gratuitidade. Aliás, a falta de meios financeiros à empresa de transportes desincentivaria esta a encontrar soluções mais vastas, como investir em mais e melhor material circulante, aumentar a frequência de carreiras, cumprir de horários e diversificar percursos, sendo precisamente aqui que está o busílis da questão. Se a Câmara Municipal que agora já não se chega como devia às necessidades de investimento nas Freguesias, distanciar-se-ia ainda mais do que agora porque o Orçamento não dá para tudo, é preciso fazer opções.


 

Do actual Executivo ficarão certamente muitos buracos nos passeios e nas ruas e muita lama em vários caminhos nas Freguesias e não se pense que tal acontece apenas nas mais distantes do centro. Pode ter havido ambição na atracção de turistas para desenvolver a economia do concelho e garantir festas maiores ou mais pequenas para que os munícipes se divertissem e pudessem dizer agora bem dos promotores, mas não podem ser esquecidas aquelas questões que no momento parecem ser uma prioridade para o candidato João Rodrigues, justamente os buracos.


 

A Câmara Municipal de Braga está a precisar de uma nova energia, de mais ambição e de capacidade para a criação de condições que possam sustentar projectos estruturantes. Está a precisar de liderança, determinação, experiência, credibilidade e de uma visão de futuro.

Luís Martins

Luís Martins

23 setembro 2025