Em tempo de eleições, a sociedade é chamada a exercer um dos seus maiores direitos e deveres: escolher quem a há de representar. Não se trata apenas de uma decisão política, mas também de um ato profundamente ético e comunitário. O Evangelho recorda-nos que cada pessoa é guardiã do bem comum e chamada a ser fermento de justiça, paz e solidariedade no mundo.
Jesus nunca falou diretamente de eleições, mas falou, sim, da responsabilidade de cada um perante a comunidade. A parábola dos talentos lembra-nos que não podemos enterrar aquilo que recebemos, mas devemos colocá-lo ao serviço dos outros. O voto é precisamente isso: um talento, uma oportunidade de contribuir para o futuro do país, escolhendo líderes que promovam a dignidade humana, a solidariedade e o cuidado dos mais frágeis.
O cidadão cristão não pode viver alheio às dores e esperanças do seu povo. O Evangelho convida-nos a olhar para além dos interesses individuais e a discernir quem, de facto, está comprometido com o serviço e não com o poder pelo poder. Não basta votar por hábito, simpatia ou conveniência; é necessário refletir, informar-se, escutar e, acima de tudo, decidir com consciência reta.
A fé não nos dita em quem votar, mas ajuda-nos a discernir os critérios: respeito pela vida, pela justiça social, pela verdade, pelo cuidado da criação e pela promoção da paz. Votar é uma responsabilidade que nasce da fé na dignidade de cada pessoa e no compromisso de construir uma sociedade mais fraterna.
As eleições passam, mas o Evangelho permanece como bússola. Depois de depositar o voto na urna, continua o desafio maior: vigiar, participar, acompanhar, cobrar coerência aos eleitos e, sobretudo, manter viva a esperança de que a política seja sempre “a forma mais alta de caridade”, como dizia São Paulo VI.
Votar não é apenas um direito. É também uma missão. Uma missão que o Evangelho ilumina e que cada um de nós é chamado a viver com coragem, consciência e esperança.
