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…Com ferros morre!

 

 



 

Há dias ocorreu nos Estados Unidos da América, num contexto universitário, que um ‘jovem’ mentor político – enquanto falava de armas – foi atingido por um disparo, vindo a falecer. Se tivéssemos a ousadia de enquadrar o acontecimento com um adágio popular diríamos: quem com ferros mata, com ferros morre!

1. Nas diversas leituras feitas sobre o caso emergiu a discussão da controvérsia sobre as disputas políticas – lá, do outro lado do Atlântico – e as acusações de uns contra os adversários, mas não veio à tela a questão do uso e porte de arma, que por lá é tão popular, quanto mortífera. Preferiram falar de outros assuntos, mas o lóbi das armas conseguiu calar as suas razões mais profundas e funestas… Eles saberão as causas e as razões desta atitude de negação do realmente visto e sentido!

2. Se a moda pega – atirar aos opositores – poderemos assistir a uma mortandade algo complexa, sobretudo se os inimigos se esconderem no anonimato ou sob o disfarce da expressão – ‘atirar a pedra e esconder a mão’. Mas não é isso que já estamos a assistir nas refregas eleitorais em curso? Os argumentos lançados dos vários lados conjugam-se para que tenhamos ódios por largo tempo. As posições extremadas – muitas delas são mesmo extremistas – entre as várias candidaturas permitem perceber sementes de mal-estar, ressabiamentos mal digeridos, pundonores agravados por desentendimentos, choques de egos exaltados, projetos mais pessoais (interesses, nepotismo, jogos de poder) do que de serviço aos outros…

3. Daquilo que se vai sabendo, o espírito da pescaria de caranguejos está em ponto de afirmação. Resumo da disputa dos caranguejos: estava um homem a apanhar os ditos, quando se aproximou outro e o confrontou com a sua atitude: então, não tapas o balde depois de apanhares os caranguejos, que podem subir pelo balde fora? Não te aflijas, eles são portugueses e, quando virem um subir, puxam-no logo para baixo… Não é esta a mentalidade de muitos dos nossos candidatos autárquicos? Não tentam desfazer o que os outros propõem, em vez de colaborarem na benemerência de todos? A maior parte dos projetos não serve mais os interesses pessoais ou de grupo (lóbi ou submundo) do que valoriza a construção do bem comum?

4. Voltemos ao atentado ao americano extremista. Embora fosse de qualidade intelectual respeitável, colocou a sua inteligência ao serviço de valores nem sempre fiáveis, ao menos no meu conceito. Incentivar o ódio, cultivar a violência ou ser instrumento de conflitos não creio que seja o mais indicado num mundo já cheio de tiques e de sinais de agressividade, da falta de respeito pela diferença e, sobretudo, pela difusão de uma mentalidade de culto da morte… tácito ou mais explícito.

5. Lá como cá, não se discutem as ideias, mas tenta-se trucidar quem as difunde. O ambiente social, político, económico/laboral e quase cultural está cada vez mais nos extremos – conotados ou apelidados de direita ou de esquerda – numa visão maquiavélica da vida e do trato entre os humanos. Como agora se diz: a perceção é de insegurança, de desconfiança, de falta de respeito das pessoas de umas pelas outras, de que algo pode acontecer de grave a qualquer momento, desde o estar em casa até ao andar na rua…tudo parece suspeito, incluindo a própria sombra.

6. Os tempos – ao nível nacional e internacional – são deveras sombrios e discernir algo de animador por entre tantas nuvens é usar de boa vontade e armar-se em quase-utópico. No entanto, devemos unir esforços para captarmos os bons sinais e sermos construtores de algo mais do que a maledicência, o pessimismo ou a desistência. Não será com discursos em defesa das armas nem com atoardas contra os migrantes que faremos uma sociedade mais justa e fraterna. Está na hora de pormos na ordem os desordeiros – os que se vê e tantos outros em surdina – arvorados em defensores de uma pátria madrasta de quem nos procura. No voto podemos e devemos responder-lhes…



 

António Sílvio Couto

António Sílvio Couto

22 setembro 2025