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Por entre erros e cansaço

 

Se há arguido que tem dado imenso trabalho à Justiça Portuguesa é o arrogante e palavroso, Eng.º José Sócrates. São dezenas de resmas de papel relativas aos documentos carreados no “Processo Marquês”, o que deixou os juízes nomeados para a sua instrução, quase, sem fôlego para lerem tanta papelada. 

Razão pela qual o juiz Ivo Rosa resolveu pronunciar a decisão de mandar a maior parte dos factos relativos aos supostos crimes de corrupção para o caixote do lixo. E é fiado na lixeira que o ex-governante socialista espera ver os 17 crimes – dos 189 imputados pelo Ministério Público (MP)no ecoponto azul. Sim, porque ele continua a acalentar a esperança de que tudo fique em águas de bacalhau e, acima de tudo, venha a ser indemnizado com dinheiros públicos. 

Pois bem, com data final prevista para 31 de agosto, que já lá vai, Sócrates continua confiante na capacidade estratégica das suas artimanhas e argumentos. De tal forma, que a Juíza nomeada para o efeito está a ver-se com dificuldade para contrariar as teses de tal sortudo. É que como a esquerda deixou de ser poder em Portugal e se encontra na mó de baixo, poderia verificar-se ter o azar de lhe sair um juiz de direita, ao estilo do lulista, Alexandre de Moraes, que, em tempo recorde e perante as provas em presença, não teria peias em condená-lo. 

Assim, o ex-recluso 44 da Cadeia de Évora pode dar-se ao luxo de gozar com o coletivo de juízas ora subindo o tom de voz, ora dando um show de adjetivos tais como infâmia, calúnia, ignomínia, etc. O sujeito até teve o desplante sugerir à magistrada (e conseguiu) um adiamento do interrogatório para outro dia, alegando-se estafado. Embora não se coibindo de, no exterior do Tribunal, responder a todas as perguntas formuladas pelos jornalistas, sem que lhe fosse denotado um pingo de fadiga. 

O certo é que Sócrates, por entre ameaças da magistrada de expulsão da sala de audiências, por proferir insinuações desrespeitosas para com o MP e a Casa da Justiça, lá tem levado a água ao seu moinho. Ou não fosse ele um homem enfincado nas suas tamanquinhas de ganância e ambição, à espera que os supostos crimes compensem. Para tal, empertigado e confiante, vem refutando todas as acusações, pois continua a pensar estar uns furos acima da lei. Já que quem a tem procurado aplicar, tem mostrado mais constrangimento do que ele.

Com efeito, por entre erros de escrita processual e cansaço tudo parece estar a favorecer a sua presumível inocência. Uma vez que os 21 arguidos que a Juíza determinou irem a julgamento – por terem sido considerados não só testas de ferro, como manuseadores do que ele disse tanto gostar (€) – não se têm descaído a confessar a respetiva colaboração nesse tráfico. Daí, Sócrates continuar empertigado e confiante na sua defesa.

Mormente, ao ouvir alguns advogados dizerem que o seu julgamento é como os outros, quando não é. Isto, por se tratar, desde logo, de um ex-primeiro-ministro português, de quem não se esperava tal comportamento e, acima de tudo, por ser um político a quem a maioria dos eleitores lusos confiaram o seu voto. É que se deste “megaprocesso” não resultarem consequências para os prevaricadores, temo bem que a desconfiança se instale no povo quanto ao principal pilar da democracia (que é a Justiça) e aquela se esboroe. 

Já quanto a gastos cito, a título de exemplo, os 5 milhões de euros que Duarte Lima cobrou a Rosalina Ribeiro Feteira, pelos serviços prestados. Imagine-se, agora, quanto Sócrates vem desembolsando, em 12 anos, para pagar ao seu causídico. Para uma pessoa que vive da sua subvenção, se já gastou o chorudo cofre da mãe, deve possuir um bom pé-de-meia. 

Contudo, caso saia em liberdade, há que esperar p’ra ver como será a vida dele daí em diante, se de fausto ou contenção. Só nessa altura constataremos, se a Justiça lusa foi comida em lume brando, ou se não. Porém, se a sentença for no sentido da absolvição, ficará facilitado o caminho à corrupção. 



 

Narciso Mendes

Narciso Mendes

22 setembro 2025