Oiço dizer à boca cheia que a sociedade, isto é, o conjunto de todos nós, mudou e muito. Se perguntarmos em que mudou, as respostas em jeito de aforismos, definem-se, normalmente, em análise do passado dos avós, quanto muito dos pais, sem concretamente saber dizer em que mudou. É costume observarmos as coisas sem termos a necessidade de as qualificar, aceitando como certa a opinião generalizada desta mesma sociedade. Por vício ou deformação de formatar o pensamento, gosto de ir à epistemologia dos factos, apenas e só para encontrar a resposta para mim: gosto de pensar pela minha cabeça e formular juízos de valor na base da minha subjetividade. A sociedade em que vivemos é aquela em que criamos os filhos, dando muito mais do que tínhamos recebido dos nossos pais e , em consequência disso, a atmosfera educativa familiar mudou: filhos insatisfeitos porque o presente estava sempre feito, isto é, ao seu dispor. Esta constatação desagua inevitavelmente na observação da atual sociedade; os parâmetros em análise são múltiplos, mas vamo-nos focar no aspeto pessoal porque traz em si uma sociedade que nunca soube o que era viver em ditadura, que viveu uma democracia como um ato adquirido com forte tendência para a vida fácil, mais eu do que tu. Aqui, sim, emerge uma nova sociedade. É a Waterloo das ideologias que dividiam a nossa sociedade entre esquerda e direita ou centro É a Waterloo destas ideologias? Não sabemos, mas ainda há nessas velhas ideologias um grito à Cambronne: “a velha guarda morre mas não se rende”. E qual será a ideologia que começa a ser visível nas camadas jovens? Uma sociedade humanista ,isto é, uma sociedade que coloque o homem em primeiro lugar, em vez de o imergir ou acinzentar em qualquer coletivismo, seja de direita, de esquerda ou do centro, Mas há aqui algo que lhes agrada: uma “ditadura democrática”, isto é, um governo eleito, forte, mas respeite o homem como sujeito : eu não quero ser tu, mas tu também não serás eu. Admite, deste jeito e em resumo, uma governação diretiva sem ser brutal e um governo onde se possa ser indivíduo em vez de ser uma peça de uma qualquer ideologia. A juventude de hoje não sabe pensar doutra maneira, porque nasceu assim, cresceu assim e assim são os seus conceitos da liberdade, em governança. Não lhe apontem com ideologias do passado, porque se arriscarão a ser renegados. Esta sociedade está a aderir aos que já a compreenderam, que a entenderam melhor e lhes fala daquilo que ela deseja: supremacia do indivíduo sobre tudo. Façam o mesmo se não querem ser migas no fundo da tigela rapada. Os que foram da velha guarda napoleónica em Waterloo, lá ficaram todos.