O paradoxo de tolerância, de Karl Popper, diz-nos que a tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Mas valerá tudo para manter este paradoxo?
Na semana passada tomamos conhecimento do assassinato de Charlie Kirk, um jovem conservador de 31 anos que apoiava convictamente a administração Trump e algumas ideias que geravam controvérsia entre os demais. Charlie Kirk era conhecido por debater com jovens universitários sobre diversos temas, desde os mais polémicos, como o aborto e a liberalização do uso e porte de arma, até ao típico debate americano Democratas vs. Republicanos. Infelizmente, no Utah, foram atingidos todos os limites. Enquanto discursava perante uma plateia de alunos foi assassinado cruelmente por alguém que - simplesmente - discordava do seu pensamento.
Concordando ou não com as suas posições, nada justifica a violência, e o assassinato de alguém pelo que disse é o ponto máximo da intolerância. É o cancelamento absoluto da palavra através do medo. A democracia só se garante se tivermos a liberdade de defender ideias, mesmo quando estas possam ser provocatórias ou diferentes das dos demais. Podemos aceitar a contestação e o debate entre ideias divergentes, o que não é aceitável é transformar esta divergência em violência.
A convivência democrática diz-nos que devemos saber ouvir opiniões divergentes e combatê-las através do debate democrático. Os intolerantes devem ser confrontados com liberdade e debate, nunca com violência. Calar alguém através da violência é abrir um precedente perigoso, o de que qualquer “inimigo político” pode ser calado por força da mesma.
O verdadeiro teste à liberdade de expressão surge quando somos confrontados com as vozes daqueles que nos incomodam, porque defender a liberdade de expressão apenas daqueles que concordam connosco não é - efetivamente - uma defesa desta liberdade.
Usar a violência como forma de resolver diferenças fragiliza as nossas democracias. O assassinato de Charlie Kirk deve alertar-nos. Ou escolhemos o debate civilizado e democrático para confrontar as vozes dissidentes, ou caímos no loop em que a violência substituirá as palavras.