O novo presidente da Câmara Municipal de Braga, João Rodrigues, surpreendeu tudo e todos, incluindo os próprios visados, ao anunciar na sua tomada de posse, a entrega da Chave de Ouro da cidade aos dois protagonistas que conduziram os destinos do concelho nos últimos 49 anos. Foi uma surpresa que fez jus ao seu apelo à “convergência”, mas que teve um alcance maior ao colocar uma pedra sobre o passado, afirmando-se como protagonista do futuro. Fez o que o seu antecessor devia ter feito, mas a quem, como se viu ao longo de 12 anos, faltou humildade política em contraste ao que sobrou de soberba e de vaidade e de forte investimento no seu narcisismo que o catapultou para a sua internacionalização pessoal. Adiante. João Rodrigues ao entregar a Chave de Ouro a Mesquita Machado, enalteceu «o sonho de afirmação» e «a coragem de querer mais quando parecia difícil querer tanto», não deixando de dar nota positiva a Ricardo Rio pela «ambição, a energia e a inteligência com que projetou Braga nos últimos anos». O caminho está assim aberto para que, no dia de S. Geraldo, os cidadãos possam se encontrar em paz com o seu passado e enaltecer o que de bom aconteceu à cidade. Agora, caro presidente, é arregaçar as mangas, sem hesitações e para usar a sua expressão, trabalhar na convergência e na capacidade de mobilizar as forças para debelar as fraquezas, eliminar as ameaças e aproveitar as oportunidades que se abrem a uma cidade que há muito alcança ser só o que precisa, não ser “quase” qualquer coisa, ou sentir-se satisfeita pelo reconhecimento premiado por políticas que não resolvem problemas em concreto das populações que serve. O nível de exigência que lhe é colocado é bem maior que aquele que, somado, foi exigido aos seus antecessores, mas, quero crer, que a sua vontade aliada à disponibilidade para fazer acontecer será compreendida. Não é fácil o caminho que tem pela frente: há problemas estruturais que só um pacto de regime permitirá resolver, sendo que a mobilidade é, neste contexto, um calcanhar de Aquiles. Veremos se todo o historial de experiências europeias e de boas práticas que foram sendo acumuladas pelas milhas do seu antecessor deixam o pó da gaveta e ajudados pela convergência de quem sabe, como aqueles que hoje são referência da ciência cidadã em Braga, resultam numa solução que possa constituir um marco, uma segunda revolução urbana em Braga. Será bom lembrar que a primeira teve como protagonista o então vereador da CDU, Casais Batista. Esta é, também, a oportunidade para Braga divergir da excessiva concentração e dependência das tecnológicas como garante do seu dinamismo económico, diversificando o seu tecido empresarial, de forma a sustentar o crescimento, mas também o desenvolvimento social em momentos de crise como aquele que já atinge o setor. Abrem-se novas oportunidades em novos domínios como o aprofundamento da convergência da Universidade com as soluções e as necessidades de que a cidade e o concelho precisam, e, em particular, com uma articulação mais estreita entre as escolas secundárias e a UM. É verdade que esta é uma cidade que soube organizar-se e obter sucesso nas políticas de inclusão, matéria essencial, a par de uma estratégia para a saúde que, deve também ela, ser inclusiva e proativa. Não se pode falar de felicidade com que a última presidência nos quis brindar se não cuidarmos do que é básico. Relevei cinco áreas e poderia nomear muitas mais como a transversalidade do poderoso instrumento que é hoje a Sustentabilidade integrada mas, João Rodrigues sabe, nós sabemos, que, só com a verdade, transparência e metas definidas que todas conheçam e possam acompanhar, poderá almejar um dia afirmar que colocou o passado no seu lugar devido.