Enquanto o tempo escorre por mim de forma implacável há acontecimentos que a minha mente, cada vez mais confusa e envelhecida, me faz recordar. E um deles, reporta-se à altura escolhida pelos meus progenitores para conceberem aquele que iria ser o seu quarto filho. O que me leva a questionar se não teria sido pelo entusiasmo do fim da 2.ª Guerra Mundial, em 1945, que os meus pais me fabricaram.
Contudo, conforta-me saber que a minha saudosa mãe – graças à paz na Europa – teve uma gestação serena. Pelo menos até ao dia em que me deu à luz entre duas cadeiras. Parto, esse, operado por uma parteira curiosa habituada a tais andanças. Lembro que nessa altura, raras eram as maternidades e nem os serviços de ginecologia e obstetrícia existiam nos hospitais.
Mais tarde, já no uso da razão, comecei a ter conhecimento sobre um período negro da História que foi o horrendo Holocausto, assim como do Holodomor e outros morticínios em outros pontos do globo, onde pereceram muitos milhões de seres humanos. Falo, por exemplo, do lançamento das bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasaki e que provocaram 210.000 mortos.
Comecei a ler e ouvir relatos sobre a Guerra Fria que opunha os EUA à URSS. Contendas motivadas pela sede de expansionismo do comunismo, por parte dos soviéticos, de que veio a resultar o conflito entre americanos e vietnamitas com consequências nefastas de milhares de mortos de um lado e de outro. Ainda hoje quando se fala no Rio Mekong, vem-me à memória esse sangrento conflito de há 50 anos.
Assim, cedo comecei a ouvir notícias na rádio acerca da guerra no Médio Oriente com atentados pelo meio e ataques de parte a parte. Tendo Israel laborado no sentido de criar um estado democrático, bem organizado, com uma economia de causar inveja aos seus vizinhos e com umas forças armadas bem preparadas. Enquanto a Palestina se dedicou mais à guerrilha esporádica contra o seu vizinho.
Acompanhei, via rádio, a revolução cubana, em 1959, comandada por Fidel Castro e Che Guevara, o que deixou Cuba isolada, sem democracia nem liberdade. Manietada, ideologicamente, por políticos afetos aos ditames marxistas. Daí, os cubanos viverem até hoje numa bolha de pobreza e com uma economia parada no tempo.
Julgando eu estar Portugal a salvo eis que, em 1961, eclode a guerra nas, então, colónias portuguesas. Para onde foram enviados milhares de militares combater os guerrilheiros formados por Moscovo e Havana, de que resultou a morte de muitos dos nossos jovens e deixando outros incapacitados. Uma guerrilha alimentada pelo Kremlin que enviava os rublos a um partido português para financiar esses movimentos e de que há contas por fazer, mas que ninguém quis mais saber.
Vivi a Revolução dos Cravos e o PREC, em 74/75, a descolonização e o 25 de Novembro de 75, bem como outras peripécias engendradas pelos militares d’Abril. Mas o que mais me continua a impressionar, após 51 anos de democracia, são as fações políticas voltadas para si, em vez de devotadas à Pátria e ao bem comum.
Assisti, via TV, ao desfecho da Perestroika e ao desmoronar da União Soviética e do Muro de Berlim, em 1989. Assim como, há 24 anos, pude ver o terror do ataque às Torres Gémeas nos EUA; ao proliferar do terrorismo no mundo; aos atropelamentos premeditados nas cidades e ao deflagrar de homens-bomba no meio das pessoas e a outros atentados que não caberia aqui citar.
E assim se passam os anos, a viver e a recordar factos, como as catástrofes naturais e a pandemia do Covid-19, em 2019, cujo rasto de milhares de mortos nos deixaram; a sentir a impotência dos países aliados da NATO, desde 2022, perante a invasão russa na Ucrânia e sem solução à vista; à teimosia do Hamas em não libertar os reféns israelitas, desde 2023, preferindo ver os palestinianos – que diz amar e defender – morrerem às balas e à fome. Enquanto isso, vejo Portugal a braços com uma enorme despesa pública, a corrupção, o tráfico de droga, os fogos e a imigração.