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Aposta no Alto Rendimento

O Governo de Portugal, através da ministra da Cultura, Juventude e Desporto e do Secretário de Estado do Desporto, e o Comité Olímpico de Portugal, representado pelo seu presidente, assinaram esta semana, em Anadia, os primeiros contratos-programa do Plano de Desenvolvimento Desportivo. Estiveram presentes vários dirigentes desportivos, autarcas e responsáveis dos Centros de Alto Rendimento (CAR), beneficiários diretos de um investimento de sete milhões de euros, um contributo relevante para o desporto português e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para transformar e reforçar o alto rendimento.

Este montante insere-se numa linha de 10 milhões e num plano global de 65 milhões de euros até 2028, com objetivos de impacto direto no alto rendimento, nomeadamente a reabilitação e modernização de infraestruturas, a melhoria das condições de treino para os atletas e a promoção da igualdade de género, entre outros de impacto mais indireto. Pela sua dimensão e alcance, trata-se de um programa importante e de saudar, pois representa um investimento estruturado e consistente, tantas vezes prometido mas concretizado muito raramente com esta ambição.

O Governo cumpre a sua parte no campo do Desporto, com visão política e estratégica ativando os seus pearceiros operacionais, enquanto o Comité Olímpico de Portugal, liderado por alguém com provas dadas no sucesso internacional do futebol português, reforça a confiança de que este é um passo decisivo para o futuro. Contudo, o verdadeiro impacto dependerá do contributo de todas as partes interessadas, especialmente das federações desportivas, e da existência de um programa de alto rendimento sustentado que comece na base, nas escolas.

O sistema educativo continua a ser a peça mais frágil do desenvolvimento desportivo. Sem uma estratégia sólida de recrutamento e encaminhamento de talento, Portugal continuará a depender de sucessos ocasionais, assentes na visão de dirigentes ou na resiliência de treinadores e atletas excecionais. A Educação Física e o Desporto Escolar permanecer fechado no seu próprio circuito, temos que ser mais ambiciosos, investir e valorizar estas áreas. Projetos inovadores como as Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola (UAARE) são passos positivos, mas ainda limitados a alguns centros, deixando escapar diariamente talento em várias regiões do país.

O desafio é claro, a Educação tem de assumir um papel central, contribuindo não apenas para estilos de vida saudáveis e para a prática generalizada, mas também para a promoção do talento que pode afirmar Portugal no cenário internacional. Só assim este investimento considerável no alto rendimento e nos CAR deixará de ser um fim em si mesmo para se tornar no motor de uma transformação profunda e duradoura do desporto português. E, no fim de contas, a bola também fica do lado da Escola, dessa base que anualmente tem de sustentar este processo e que é essencial para o sucesso global.

Fernando Parente

Fernando Parente

12 setembro 2025