twitter

Marcelo e Pombal, guardar o principal para o fim

Agradecer, em Castelo de Vide, uma condecoração recente?). Não bastasse o curto mas incisivo discurso “wokista” do 10 de Junho de 2025 (em Lagos), o actual PR voltou a ser parcial e excessivo na “Universidade de Verão” do PSD, na algo cristã-nova Castelo de Vide. Aqui, num imprevisto desbragamento verbal e ideológico, afirmou que Trump, “o mais alto dirigente da maior superpotência mundial, era um activo soviético, activo russo”. Basicamente, um “agente russo”… Ora este enorme dislate, para mim deve ser o produto combinado de 4 factores. 1º, um calendário carregado, em que interrompe férias no Algarve para ir a 2 problemáticos funerais de bombeiros e depois a Castelo de Vide. 2º, o PR não quer sair da “bolha mediática”, da completa e contínua propaganda pro-Kieve e anti-Moscovo que tomou conta de todos os “media” de boa parte da UE (e do próprio ideário de quase toda a nossa classe política); ao ponto de a TV russa ser completamente censurada e proibida na UE, como se estivesse a decorrer uma guerra deles contra nós! 3º E isto é especulativo, o PR é confessadamente um hipocondríaco, e confia num certo produto (desinibitório e energético?) cujo nome começa por “F” e acaba em “mel”, está impaciente que o seu mandato acabe e possa novamente ser um livre comentador, um professor a ensinar o que pensa aos seus alunos (e eles estavam ali, à sua frente…). 4º Talvez o PR (que há 2 anos visitara uma trincheira ucraniana bem distante do “front”) e abraçara calorosamente o ousado e manhoso judeu Zelenski, tenha ficada demasiado comovido com a comenda ucraniana que deste acabara de receber, via Internet.

Comparando com Pombal, parece haver aqui uma mútua certa “saída do armário”). Já bem antes das 3 escorregadelas presidenciais (Lagos, C. de Vide e o veto à já bem tardia nova “lei da nacionalidade”), eu planeava salientar a relativa semelhança entre aquilo que, no auge do grande Poder de cada um destes governantes, aliás vagamente parecidos do ponto de vista físico (e até, supostamente étnico, calcule-se…), eles guardaram para o fim. Revelando que, como em certos trabalhos ou conversas “o melhor”, o mais importante só vem a ser apresentado na altura própria. “Last but not the least”, ou como por cá se diz, “o principal ficou guardado para o fim”. Mas vou explicar melhor.

A abolição, por Pombal, em 1773, das diferenças entre cristãos-novos e cristãos- velhos). Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), só foi feito conde de Oeiras apenas em 1760 e marquês de Pombal em 1770 (18 de Setembro). Governou ditatorialmente de 1750 a 1777 (ano da morte de seu apoiante principal, o rei D. José). Só em 1768 é que ousou impor o afrontoso decreto de (sob pena de perda total de bens e privilégios) as famílias da aristocracia portuguesa (cristã-velha, claro) terem 4 meses para combinar algum casamento com pessoas de ascendência judaica (os cristãos-novos). E só em 73 (2 anos antes da sua saída forçada) é que ousou, sob débeis argumentos, abolir por completo, a distinção entre cristãos-velhos e novos, nomeadamente no que respeita ao exercício de cargos públicos. Mandou mesmo queimar os “rois das fintas”, isto é, a lista dos (cristãos-novos) que pagavam certo tipo de impostos. E aboliu a ideia de “limpeza de sangue” (mouro, judeu, indiano), como condição necessária para se governar o povo luso. Ele próprio assim o fez, porque (cf. a págs. 434, a excelente, recente e bem grossa sua biografia, por PEDRO SENA LINO, “De quase nada a quase rei”) era “bisneto de africana, neto de cristã-nova e neto e filho de falsários”. Aliás, um dos seus “padrinhos” foi o diplomata D. Luís da Cunha (1662-1749), que também tinha uma avó goesa (cf. ABÍLIO DINIZ SILVA, editor do livro do D. Luís da Cunha, “Instruções políticas”) no qual se lê, a págs. 29, que o enviado de Luís XIV a Lisboa, o marquês de Torcy, afirmava que a avó paterna de D Luís da Cunha” tinha sido queimada em Goa, acusada de judaísmo ou de paganismo”. E que “les alliances ne sont pas bonnes”.

Dois livros meio “proscritos”). Em novo, o filho do notável Baltazar R. de Sousa era arrogante e inacessível, com a sua pera negra e olhos verdes. Muito contrastando com a sua paternalista e “afectiva” postura actual. Foi dos muitos que “decretaram” que Camarate foi só um acidente; e, por detestar Portas desfez a nova AD, em 1999; e agora ainda é dos tais, muitos, que confundem a direitista Rússia (de Putin), com a comunista URSS (dissolvida e retalhada em 1991, há 34 anos…). O recém-falecido J. A. SARAIVA refere, no seu livro “Eu e os políticos” a sua ascendência (remota) moçambicana. E o jornalista VÍTOR MATOS (na sua biografia do PR, de 2012) não exclui a possível raíz caldaica de parte do seu ramo materno, covilhanense. Mais que a própria Economia, o motor principal da Política e da História parece ser o genético, com as marcas que deixa na afectividade e decisões dos protagonistas…

Eduardo Tomás Alves

Eduardo Tomás Alves

9 setembro 2025