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Encantos da Índia (2)

 


 

Na sequência da crónica da passada semana, continuamos hoje o relato do fantástico percurso que, entre 20 e 29 do passado mês de agosto, fizemos pelos Encantos da Índia

Tendo deixado Agra na tarde do dia 23, e depois de uma viagem de cerca de quatro horas, chegámos a Jaipur ao anoitecer. Só na manhã do dia seguinte iniciámos a visita à capital do Rajastão e lendária terra dos Marajás1, também conhecida como cidade cor-de-rosa, em virtude da coloração da pedra utilizada na maioria das suas construções. 

Parámos em frente de Hawa Mahal, o Palácio dos Ventos2, para ver e fotografar um dos mais famosos monumentos de Jaipur. Seguimos, depois, para o Forte de Amber, antiga cidadela dos reis Kuchawaha até 1727, altura em que Jaipur passou a ser a capital da Índia. Pelo caminho, vimos alguns dos elefantes que nos serviriam de transporte até ao palácio, não fora a derrocada de um muro, no dia anterior, lhes impedir a passagem.

Finda a visita ao belo e rico Forte de Amber, deslocámo-nos à Igreja de S. Francisco Xavier, onde fomos muito bem acolhidos e celebrámos a Eucaristia do XXI Domingo do Tempo Comum, em clima familiar, recolhido e orante.

Da parte da tarde, visitámos o Palácio da Cidade, antiga Residência Real dos Marajás e, na atualidade, museu da cidade, com uma parte ainda reservada à família real de Jaipur. Aí pudemos ver armas, pinturas, manuscritos e outros objetos do tempo dos Rajput3. No fim, em rickshaws, fizemos uma visita panorâmica e estonteante à zona comercial de Jaipur, um verdadeiro labirinto repleto de bazares e rico em cheiros e cores. No meio de um trânsito caótico, era ver os condutores a fazer malabarismos e nós a delirar com tal espetáculo!

Na manhã do dia seguinte (25 de agosto), seguimos, de avião, para Goa. Instalados num hotel, em Panjin, tivemos uma tarde livre. A visita começou no dia 26, com uma curta deslocação à Velha Goa, cidade há muito abandonada, onde os portugueses chegaram em busca de uma base permanente que lhes permitisse controlar os mares e expandir a fé cristã. Visitámos a Basílica do Bom Jesus, onde se encontra o túmulo de S. Francisco Xavier, o Apóstolo das Índias, e também aí celebrámos a Eucaristia. Debaixo de forte chuva, fomos ainda ver a Catedral de Santa Catarina, a maior igreja que os portugueses construíram em todo o mundo por onde andaram. Por fim, passámos pelo Arco dos Vice-reis, mandado construir em 1665 por D. Francisco da Gama, em memória de seu avô, Vasco da Gama; visitámos a Igreja da Divina Providência e o Colégio de S. Caetano, dos italianos Padres Teatinos; e rumámos para uma plantação de especiarias, onde almoçámos e pudemos ver e cheirar o cravo, a noz-moscada, a canela, a pimenta e a baunilha.

O dia posterior começou com um périplo pela capital de Goa, a cidade de Panjin, junto à foz do rio Mandovi, que conserva muitos vestígios da presença portuguesa: casas (andámos pelo bairro das Fontaínhas) e igrejas, com destaque para a de Nossa Senhora da Conceição, em estilo barroco, construída em 1541. Acolhidos pelo Padre Silva, que é indiano, mas fala português, rezámos e cantámos. Muito longe de casa, foi em casa que nos sentimos.

Na tarde desse dia, deslocámo-nos de avião para Mumbai (Bombaim), capital do estado de Maharashtra, lugar onde, no início do século XVI, aportaram as caravelas portuguesas. Ao entrarem na baía e maravilhados com a sua beleza, os navegadores chamaram-lhe “A Bela Baía”, derivando talvez daí o nome Bombaim. A cidade foi oferecida aos ingleses, em 1661, por D. Afonso VI, como dote de casamento da infanta D. Teresa com Carlos II de Inglaterra. Com os seus cerca de 28 milhões de habitantes e com uma atividade económica, política e artística de relevo, Mumbai é a maior e a mais importante cidade indiana. 

Na manhã do dia 28, visitámos as Cavernas de Kanheri, na densa floresta do Parque Nacional de Sanjay Gandhi. Trata-se de um complexo de 109 grutas budistas dos séculos II a IX, escavadas em rochas, com monumentos arredondados (“stupas”) destinados à prática religiosa budista. A maior de todas é a caverna 3, do século VI, com duas estátuas de Buda de 7 metros de altura e com cerca de 34 pilares trabalhados na rocha.

Da parte da tarde, passámos por alguns dos lugares de maior interesse da cidade: Parque Kamla Nehru, Dhobi Ghat (a maior lavandaria do mundo), a casa Mani Bhavan (onde Mahatma Gandhi ficou durante a sua estadia em Bombaim) e o ícone mais famoso da cidade, a Porta da Índia.

Muito mais havia a visitar, mas o tempo esgotou-se e o dia seguinte era de regresso. Levantámo-nos quando, em Portugal, alguns ainda se deitavam, seguimos para o aeroporto e começou a longa viagem de Bombaim para Istambul e de lá para o Porto.

Na memória, ficou o muito que vimos, vivemos e aprendemos. Para a história, fica o que, nestas crónicas, relatámos, esperando que faça crescer em muitos o desejo de visitar estes e outros Encantos da Índia

1 Maharaja é composto pelos termos mahant (“grande”) e rajan (“rei”). Título de alguns príncipes ou reis da Índia, é usado também em sentido figurado para designar um indivíduo muito rico e poderoso.

2 O exterior, de cinco andares, é semelhante a um favo de mel. Possui novecentas e cinquenta e três janelas pequenas, em estilo de rede, conhecidas como jharokhas. O objetivo original do projeto era permitir que as damas reais observassem a vida quotidiana e os festivais celebrados na rua sem serem vistas, já que deveriam obedecer às rígidas regras do purdah (prática de impedir as mulheres de serem vistas pelos homens que não sejam seus parentes) que só lhes permitia aparecerem em público com o rosto coberto.

3 Membros de um dos clãs patrilineares do centro e do norte da Índia e de algumas partes do Paquistão.

Pe. João Alberto Sousa Correia

Pe. João Alberto Sousa Correia

8 setembro 2025