1.Porque, em minha opinião, permanece muito atual, recordo a Carta Pastoral intitulada «Na Era da Comunicação Social», publicada pela Conferência Episcopal Portuguesa com data de 11 de abril de 2002.
A família, lê-se no número 7, «é a primeira e mais natural escola de comunicação e de convivência. Nela se aprende a dialogar e a viver em conjunto, preparando os seus membros para quadros de relacionamento e de colaboração mais alargados, quer informais quer institucionais. Por isso, a Igreja tanto se empenha em defendê-la».
A família não é um conjunto de pessoas, mas uma comunidade. Uma comunidade de amor e de vida. Uma comunidade de amor ao serviço da vida. E não se entende comunidade sem comunicação.
2.A comunicação é uma atividade natural mas é também uma atividade que se aprende, se exercita, se aperfeiçoa.
Não basta que as pessoas comuniquem entre si; é preciso que comuniquem como devem. Que comuniquem aprendendo a usar a linguagem mais aconselhada, mais expressiva, mais correta.
Uma comunidade onde o palavrão é a linguagem corrente; uma comunidade onde as pessoas não são exercitadas na pronúncia correta das diversas palavras; uma comunidade onde se não usa o tom de voz adequado mas se fala aos gritos não é um verdadeira escola de comunicação.
3.Não há comunicação quando o outro é ignorado; quando não há tempo nem disposição para estar com ele, para o ouvir, para lhe prestar atenção.
A verdadeira comunicação é o diálogo, onde se transmitem e recebem mensagens.
Na família, diz a referida Carta Pastoral, se aprende a dialogar. Para isso é necessário ouvir o outro. É necessário respeitar a correta liberdade de expressão. É preciso reconhecer ao outro o direito de discordar em questões em que cada um pode ter a sua opinião e o seu ponto de vista.
Uma comunidade onde as pessoas não são ouvidas; onde as opiniões divergentes são mimoseadas com insultos, são abafadas com berros ou murros na mesa, ou dão pretexto a azedas discussões não pode ser considerada uma verdadeira escola de diálogo.
4.Além da comunicação entre as pessoas e os grupos existe a comunicação social, que exerce uma notável influência sobre as pessoas, a tal ponto de se poder afirmar: diz-me o que lês, o que ouves e o que vês, e dir-te-ei quem és. «As pessoas são hoje muito do que absorvem dos meios de comunicação que mais frequentam» (Idem, n.º 30).
Surge então a necessidade de se educarem os indivíduos para o correto uso dos meios de comunicação social. Das redes sociais, por onde passa muita desinformação e são, muitas vezes, caminho para a exploração de pessoas incautas.
5.A referida Carta Pastoral alerta também a família para as responsabilidades que tem neste sector, uma vez que «a boa formação da consciência, desde o berço e ao longo da vida, é (...) um extraordinário bem» (n.º 15).
Este alerta mantém-se válido. É cada vez mais necessário.
É preciso «mobilizar as famílias» no sentido de «um esforço para o correto uso dos meios de comunicação social». Porque os públicos infantis e juvenis são particularmente influenciáveis pelos meios de comunicação social, «cabe aos pais e educadores defendê-los das mensagens prejudiciais, fazendo ao mesmo tempo a sua iniciação no bom uso desses meios» (n.º 18).
Se não há a preocupação de andar atento ao que os filhos lêem, ouvem e vêem; se não há diálogo sobre o conteúdo dos meios de comunicação social; se há vários televisores disseminados pela casa, inclusive no quarto de dormir de pais e de filhos; se os mais responsáveis não começam por dar testemunho de moderação e de criteriosa escolha relativamente aos programa televisivos; se tem entrada em casa toda a espécie de vídeos e de publicações, que cada um usa como lhe apraz; se a hora da refeição é passada com o telemóvel ou o tablet, onde está a educação para o uso dos meios de comunicação social e das redes sociais?