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O “espírito solidário luso”

 

 

 

Sem dúvida que os incêndios vieram para ficar. Esta é uma afirmação não só minha, como de muito boa gente que entende o cerne da questão, depois de ter assistido à incapacidade deste Governo em acabar com os incêndios. Daí, eu ter chegado à conclusão de que seja qual for o partido que governe não o conseguirá. O fogo veio para ficar e não há volta a dar. É que a ganância dos ‘lóbis’ instalados é tanta que, hoje, o fogo é um negócio de muitos milhões no que à prevenção e combate concerne. Assim sendo, resta-nos esperar pela estação de Inverno. 

Contudo, há algo que não me tem passado despercebido. A entreajuda entre as populações afetadas pelo fogo em minimizar as consequências. Procurando debelar as chamas que rondam as suas casas, os seus bens e dos vizinhos. Ora com tratores e pick-ups munidas de cisternas de água, ora através do arrebitar de mangueiras de rega e, até, do balde. Tudo tem servido para o efeito, perante o desespero de não verem chegar os bombeiros e os meios aéreos aos locais em chamas.

Enquanto isso, têm-se visto às dezenas os elementos da proteção civil, de fardas impecáveis e boinas bem vincadas e pagos por todos nós, a desdobrarem-se em briefings à Comunicação Social para dizerem, na maioria das vezes, meras banalidades ou que não há meios. A que se juntam os Presidentes de Câmara e de Junta de Freguesia, que pouco, ou nada, fizeram pelas terras a que presidem. Não só em termos de ordenamento e limpeza do território, como na contenção do licenciamento de habitações no meio dos matagais e arvoredo. 

Valha-nos, ao menos, o “espírito solidário do povo luso” em salvar vidas e bens. Atestam-no a adesão às campanhas contra a fome e sempre que outras, de índole diversa, surgem no sentido de ajudar quem mais precisa. Algo de que nos podemos orgulhar, como de sermos um exemplo para quem se mostra mais de coração empedernido em auxiliar o próximo. O que me leva a recordar algo que li num jornal da nossa praça sobre um incêndio numa Instituição, em 13 de junho, último.

Com efeito, a notícia dava conta de fogo num Lar de Idosos, em Salvaterra de Magos, provocado, ao que dizia, por um curto-circuito numa tomada de um quarto. Tendo sido retirados das instalações 32 dos 73 utentes e 11 dos quais encaminhados para o Hospital, ficando 2 internados devido a algumas queimaduras. Apesar do pânico instalado, o pessoal do Lar criou uma onda de prontidão e entreajuda para socorrer os utentes. Chefiada pela própria diretora, a equipa mobilizou-se para acudir aos velhinhos sem olhar a entraves do foro dos direitos laborais.

Ademais, ao saberem da grave situação até quem estava de folga acorreu ao local de trabalho, a fim de auxiliar os colegas empenhados em salvar vidas. Num gesto de boa-vontade, estes funcionários não só olharam ao facto de se tratar de seres humanos em estado avançado de vida, como de criaturas frágeis e indefesas a precisarem de ser salvas. 

A eficiência foi tal, que levou o Com. dos Bombeiros a dizer que pela maneira como o pessoal se movimentava no terreno via-se estarem preparados para lidar com a situação, pois mais lhe perecia estar perante um simulacro de incêndio. Além disso, aquele Lar (adventista) encontra-se dividido em 3 edifícios-alas separados por portas de corta-fogo logo encerradas pelos trabalhadores, o que evitou as chamas se propagassem a todo o prédio.

Creio bem, ao contrário daquele, que a maioria dos Lares da 3.ª Idade no nosso país não só não são pensados em termos de instalações, como nem de pessoal que saiba lidar com uma emergência. Pior é, ainda, quando se trata dos clandestinos e das chamadas ‘famílias de acolhimento’ onde nada é controlado. 

O que me leva a questionar sobre se aqueles 6 idosos que pereceram no Lar da Misericórdia de Mirandela teriam mesmo de morrer no meio do fogo ou se, por outro lado, poderiam ainda estar vivos se o zelo ali imperasse. É que segundo o provedor, nada havia sido prevenido antes da tragédia. 

Narciso Mendes

Narciso Mendes

25 agosto 2025