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Entre Kiev, Washington e Bruxelas: o futuro da liberdade

No passado dia 18 de agosto de 2025, Washington foi palco de uma reunião decisiva. À mesa estiveram o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e uma vasta comitiva europeia, composta por Ursula von der Leyen, Emmanuel Macron, Friedrich Merz, Giorgia Meloni, Keir Starmer e outros líderes. O encontro foi designado como reunião multilateral de crise e trouxe para o centro do debate não apenas o futuro da Ucrânia, mas também a solidez da aliança transatlântica e a capacidade da Europa de manter o rumo em tempos de incerteza.

O contexto não podia ser mais exigente. Mais de três anos passaram desde a invasão russa e a guerra arrasta-se com custos humanos, económicos e políticos pesadíssimos. A fadiga da guerra é hoje uma realidade tanto em Kiev como nas capitais europeias e em Washington. Vladimir Putin sabe disso e joga com o tempo: espera que as divisões no Ocidente corroam a determinação inicial e que, à boleia do cansaço, se abram portas a cedências que legitimem a agressão.

Foi neste cenário que Donald Trump recebeu Zelensky e a comitiva europeia. O encontro não se esgotou em fotografias: trouxe sinais importantes, mas também ambivalentes. De um lado, a Europa reafirmou de forma clara que não aceita concessões territoriais nem soluções que sacrifiquem a soberania ucraniana. Do outro, Trump mostrou-se disponível para discutir garantias de segurança para Kiev, num modelo próximo ao artigo 5.º da NATO, mas lideradas sobretudo pela Europa. Ao mesmo tempo, manteve em aberto a ideia de negociações com Moscovo, sem descartar a possibilidade de envolver diretamente Vladimir Putin num futuro encontro trilateral.

Ora, esta postura exige uma leitura crítica. A tentação de procurar “atalhos para a paz” pode ser politicamente sedutora, mas a história ensina-nos que a paz construída à custa da justiça é apenas um intervalo antes de nova violência. Ceder território à Rússia não seria paz: seria legitimar a força como critério de direito. Seria enviar ao mundo uma mensagem perigosa de que as fronteiras podem ser redesenhadas pela lei do mais forte.

O Partido Social Democrata tem sido claro: Portugal deve manter-se firme no compromisso europeu e atlântico de apoio à Ucrânia. Esse apoio não é apenas material ou militar; é político e moral. A Ucrânia não luta apenas pela sua sobrevivência – luta pelos valores que sustentam a paz europeia desde 1945: a soberania, a integridade territorial e o direito de cada povo escolher o seu destino.

É compreensível que os cidadãos, em Portugal e noutros países, se interroguem sobre o peso deste esforço. A inflação, os custos energéticos e a pressão orçamental são realidades quotidianas. Mas o maior custo seria virar as costas a Kiev. A indiferença seria, ela sim, insustentável. Seria entregar a Putin uma vitória estratégica e abrir a porta a uma nova era de insegurança também para nós. Portugal, pela sua dimensão, não dita o rumo da guerra, mas deve estar do lado certo da história: do lado da democracia contra a tirania.

A reunião de Washington lembrou-nos ainda a importância da relação transatlântica. Os Estados Unidos são insubstituíveis no esforço de apoio à Ucrânia, mas a Europa não pode limitar-se a segui-los. Tem de assumir a sua quota de responsabilidade, reforçar a sua capacidade de defesa, investir na sua indústria militar e mostrar que pode ser um parceiro de pleno direito. Se o futuro da política norte-americana for marcado por hesitações ou prioridades distintas, a União Europeia não pode ficar paralisada.

É aqui que Portugal também deve contribuir. Não pelo peso militar, que é naturalmente limitado, mas pela clareza política e pela consistência diplomática. O nosso país pode e deve ser uma voz de firmeza, recordando que a paz duradoura só se constrói com justiça. E justiça, neste caso, significa devolver à Ucrânia o controlo sobre as suas fronteiras, garantir a sua autodeterminação e impedir que a lei da força se sobreponha ao direito internacional.

Washington foi, no fundo, um espelho das tensões atuais: de um lado, a determinação europeia; do outro, a ambiguidade americana. Mas também foi um aviso. Não podemos permitir que a fadiga ou o oportunismo político comprometam um esforço que, mais do que ajudar Kiev, protege a própria Europa. A fronteira ucraniana é hoje também a fronteira da nossa liberdade.

É por isso que a mensagem do PSD é clara: Portugal deve continuar ao lado da Ucrânia até ao fim. Não se trata apenas de solidariedade – trata-se de segurança, de coerência e de dignidade. Trata-se de saber que, daqui a alguns anos, poderemos olhar para trás e afirmar que estivemos do lado certo, quando estava em causa o essencial.

Paulo Cunha

Paulo Cunha

21 agosto 2025