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O bem não faz barulho – o barulho não faz bem

 


 

 


 

Temos repetidas vezes visto e sentido que este trocadilho é mais do que notório nas coisas públicas, nas atitudes de pessoas e de grupos, nos comportamentos percetíveis ou menos claros: aspetos de bem são ofuscados por fazedores do mal e este é exaltado sobre tantas e tão diversas formas, mesmo as mais abjetas e nefandas. 


 

1. Quantas pessoas gastam a sua vida de forma simples e abnegada, sendo ignoradas nas notícias, mas que sairão da sombra se, porventura, forem denunciadas por essa mais que asquerosa forma de acusar, tão em voga, que é a denúncia anónima. Ninguém está acima de qualquer modo de vir a ser exposto, embora possa ter um curriculum sem mancha até essa ocasião. As forças das trevas são ardilosas e sabem que podem atingir a honorabilidade de qualquer um, desde que seja lançada uma fama ou suspeita sobre outrem. 


 

2. Numa onda que parece progressiva vemos uma certa tendência em usar o humorismo para destroçar o caráter de alguém que possa fazer sombra ou tenha entrado na engrenagem em contracorrente. Será isto arte ou artimanha? Poderemos considerar que vale tudo para atingir os adversários? Até onde irá a capacidade de ridicularizar sem se tornar ridículo? Não andará o bom senso em maré decrépita e ao sabor dos intentos mais ignóbeis e manipulados? O velho ditado latino – ‘a rir se corrigem os costumes’, parece ter caído em desuso, sobretudo dos de segunda classe humorística.


 

3. Confesso que não compreendo que se faça – nalguns casos de forma reiterada e contumaz – convite para ações de formação de teor cristão (religioso) a certas figuras do mundo do humor, especialmente do mais barato e insonso. Haverá correspondência dessa vertente cultural com o convite a pessoas da área cristã (religiosa) para terem alguma intervenção, nas suas coisas e loisas? Descemos muito na fasquia da qualidade cultural mais básica e fundamental…


 

4. Dá a impressão que todos se consideram capazes de se pronunciarem quanto a qualquer matéria, usando a maledicência. Bastará consultar as (ditas) redes sociais para vermos os mais básicos comentários a propósito de tudo e mais alguma coisa. Muitos dos que emitem opinião não conhecem a matéria, mas fazem barulho para confundir e podendo com isso atrair a atenção dos incautos. Com que vulgaridade as pessoas falam umas das outras e comentam assuntos sobre os quais nada sabem nem se deveriam meter. A sanha dos pretensos influenciadores pulula em cada canto e muitos deles/as não passam de espertos e/ou habilidosos sem estofo moral ou intelectual para continuarem a faturar à custa da ignorância alheia.


 

5. Vivemos, efetivamente, num tempo pouco dado ao silêncio, desde a situação mais simples até à mais bizarra, o barulho ocupa o espaço de muitas pessoas, que, sem se darem conta, têm horror ao não-barulho, mesmo que esse seja a tal chinfrineira a que alguns chamam de ‘música’. Repare-se nas multidões que invadem os (ditos) festivais onde boa parte das pessoas se aliena nos sons altissonantes das gritarias e dos acordes de poluição acústica. Já abriu a caça aos concertos, que têm tanto de elevado custo, quanto de comércio direto e de produtos afins… nestes se incluem as drogas lícitas ou ilícitas, as mais comuns até às mais sofisticadas. Por que será que ninguém questiona nem investiga os rios de dinheiro que alimentam tais atividades? Por que se faz vista grossa às ilegalidades e indícios criminosos? Será porque muitos dos clientes jogam em diversos tabuleiros, desde a promoção até aos lucros, passando pela venda-de-imagem de que estão dependentes? 


 

6. O bem não faz barulho, porque satisfaz a dimensão profunda da pessoa humana. O barulho não faz bem porque atrofia e desorienta todos. Há que escolher e pesar o que vale mais! 

António Sílvio Couto

António Sílvio Couto

23 junho 2025