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Umas merecidas férias

João preparara aquela semana de férias na Costa Amalfitana com particular cuidado. Comprara as passagens aéreas para si, para a esposa e para os dois filhos com meses de antecedência para embaratecer os custos da viagem. A viagem iniciar-se-ia no Porto em direção a Roma e daí apanharia um voo de ligação para Salerno. Tratou igualmente do rent-a-car de uma viatura para as suas deslocações e as da família que seria levantada no aeroporto de Salerno e daí viajaria até Praiano, onde reservara um alojamento local numa conhecida plataforma online que disponibiliza apartamentos e casas para efeitos de curtas estadias, normalmente de caráter turístico. Ficariam aí alojados durante os sete dias que João tirara de férias, regressando a Portugal no fim do dia 13 de maio. Durante aquela semana havia muito para conhecer e visitar: o Vesúvio, Pompeia, Amalfi,…. João visualizara centenas de vídeos no YouTube que o ajudaram a compor o roteiro da viagem que planeara para a família.

Quando entra no aeroporto do Porto pelas 7h do dia 6 de maio, João apercebe-se que está a decorrer uma greve que afeta os trabalhadores da empresa de handling do aeroporto e que, por isso mesmo, os voos estão quase todos a sofrer um forte atraso. Por fim, pelas 16h30 lá conseguem embarcar. Assim, ao chegar a Roma já tinha, há muito, levantado o voo de ligação a Salerno. Depois de muitas insistências com a companhia aérea, lá conseguiu ser colocado num voo para Salerno que decolou pelas 22h30 e aterrou em Salerno perto de duas horas depois. Para além desse contratempo, também a mala de porão se encontrava extraviada, tendo que formalizar uma reclamação no aeroporto, que se comprometeu a reencaminhar a mala para Salerno assim que a mesma fosse localizada. A acrescer a esta, outra contrariedade: a agência de rent-a-car fechara às 24h00 e só no dia seguinte poderia proceder ao levantamento do carro, pelo que teve de recorrer a um táxi que aceitou transportar a família para Praiano mediante o pagamento de 200€. Ao chegar ao alojamento, mais um problema. O acesso ao alojamento implica inserir uns códigos na fechadura eletrónica que tinham um prazo de caducidade: as 24h00 do dia 6. Não conseguindo entrar, porque já eram 3h00 do dia seguinte, não restou a João outra possibilidade senão dirigir-se a um hotel local que ainda tinha dois quartos disponíveis, e aceitou alojar a família mediante o pagamento de 600€ para aquela noite. O dia seguinte foi passado a resolver o problema do alojamento e o levantamento do carro no aeroporto de Salerno. Ao fim da tarde do dia 8 João recebe uma mensagem no telemóvel a dizer que a mala já fora localizada e estava em trânsito para Salerno, podendo ser levantada no aeroporto a partir das 23h00 daquele dia. Cansado, João adiou o levantamento da mala para o dia seguinte.

Entretanto, João apercebeu-se de que não iria conseguir cumprir com o roteiro idealizado para as férias. Para além dos constrangimentos da viagem, a Costa Amalfitana estava pejada de turistas. Parecia que toda a Europa se tinha mudado de armas e bagagens para aquele pedaço de costa italiana. Filas intermináveis em todos os locais que pretendiam visitar, assim como nos restaurantes e cafés. Trânsito caótico. Preços estratosféricos. Serviço inqualificável. População residente pouco simpática com os turistas, talvez porque também se sentem prejudicadas com o excesso de turismo. No dia 10 João recebe uma mensagem do seu Banco, que pede que entre rapidamente em contacto com o Banco. Ao aceder no seu homebanking, João apercebeu-se de uma série de levantamentos efetuados num curto espaço de tempo e que já ultrapassavam os 1.000€. Telefonou para o banco e procedeu ao cancelamento do cartão de crédito que teria sido objeto de clonagem quando efetuara um pagamento qualquer que não sabia precisar. Seguidamente, quando lhes cobraram perto de 50€ por quatro fatias de pizza e duas garrafas de água, João olhou para o céu e desejou um rápido regresso a casa. Os últimos dias foram passados com toda a família de mau humor devido ao calor, ao cansaço e ás agruras de um local que desconheciam e se assemelhava mais a um pequeno inferno decorado com uma paisagem bonita.

Esta pequena história, exagerada, mas que contém um conjunto de problemas que, com o aumento desmesurado do turismo em determinados locais, pode acontecer a qualquer um, alerta-nos para um problema cada vez mais real e atual: a necessidade de proteger o consumidor turista.

Na verdade, é sabido que o gozo de férias não combina com litígios ou problemas, de tal forma que o respeito pelos direitos do consumidor turista acaba por ser um ativo importante que pode ser decisivo na escolha do destino turístico. As questões que se prendem com a vulnerabilidade do consumidor turista serão abordadas especificamente no nosso próximo artigo.

Fernando Viana

Fernando Viana

21 junho 2025